Leia a resenha desse livro MARAVILHOSO que merece ser espalhado por ai!
Autor: Jeff Garvin
Ano de Publicação e Editora: 2016 (original), 2017 (nacional). Versão nacional pela Plataforma21
Sinopse: “A primeira coisa que você vai querer saber sobre mim é: sou menino ou menina?”
Riley Cavanaugh é um ser humano com muitas características: perspicaz, valente, rebelde e… gênero fluido. Em alguns dias, se identifica mais como um menino, em outros, mais como uma menina. Em outros, ainda, como um pouco dos dois. Mas o fato é que quase ninguém sabe disso.
Depois de sofrer bullying e viver experiências frustrantes em uma escola católica, Riley tem a oportunidade de recomeçar em um novo colégio. Assim, para evitar olhares curiosos na nova escola, Riley tenta se vestir da forma mais andrógina possível. Porém, logo de cara recebe o rótulo de "aquilo". Quando está prestes a explodir de angústia, decide criar um blog. Dessa forma, Riley dá vazão a tudo que tem reprimido sob o pseudônimo Alix.
Numa narrativa em que o isolamento é palpável a cada cena, Jeff Garvin traça um poderoso retrato da juventude contemporânea. Somos convidados a viver a trajetória de Riley e entender o quê, afinal, significa ser humano.
Como a sinopse já diz, o livro conta do ponto de vista de Riley seus pensamentos, rotina e família. Somos apresentados à personagem de maneira mais neutra possível: com o início do seu post no blog. A frase é: "A primeira coisa que você vai querer saber sobre mim é: sou menino ou menina?”. Riley faz terapia para superar alguns acontecimentos recentes da sua antiga escola (católica) e, como exercício, sua terapeuta pede que escreva suas emoções. Riley decide começar um blog contando tudo o que entende sob sua perspectiva de pessoa não-binária e gênero fluido.
Só que ninguém além de seus leitores sabe disso, e mesmo assim por meio de seu pseudônimo "Alix", porque Riley consegue "camuflar" suas crises com seu isolamento e introspecção. Além disso, seu pai é um importante político que está tentando uma reeleição, então qualquer coisa "fora do padrão" pode afetar suas vidas para sempre. Riley sabe disso, mas também sabe que precisa conversar com seus pais sobre entender perfeitamente quem é (ao contrário do resto do mundo inteiro, aparentemente). A mudança de escola acaba fazendo com que Riley use o blog para desabafar sobre tudo.
O que não se espera é que esse blog se torne um fenômeno online, cheio de comentários (positivos e negativos) e também vire ponto de referência para muitas outras pessoas LGBTQ que buscam ajuda e conselho. Riley começa a enxergar o quanto suas palavras podem ajudar (e também prejudicar) não só a si, mas a uma infinidade de pessoas. E nesse ponto o livro me ganhou totalmente: palavras têm poder. Uma das passagens mais impactantes da jornada de Riley online é ver o quanto seus conselhos, por mais banais que possam parecer, afetam as outras pessoas. E é importante ver que Riley consegue entender isso e age com muita maturidade sobre tudo! É um exemplo a ser seguido, mesmo!
E isso é só o enredo principal desse livro maravilhoso, cheio de detalhes e personagens importantíssimos que fica até difícil descrever tudo!
Vou começar pelo principal: Riley é gênero-fluido, o que quer dizer que se identifica hora como "feminino", hora como "masculino". Sua expressão de gênero (como se veste e se comporta, por exemplo) tendem a acompanhar sua "bússola interna", que varia muito de dia para dia. Seus dilemas são centrados nessa sua expressão, porque as pessoas, acostumadas ao padrão binário de comportamento, ficam confusas ao não entenderem exatamente em qual "lado da moeda" o corpo de Riley se encaixa. Mas o mais importante é: seu sexo biológico não importa. Nem para o personagem, muito menos para o leitor.
Eu quero chamar atenção para um detalhe importantíssimo nesse pano de fundo todo: a escrita e a tradução brasileira. Não li o livro no original, em inglês, mas o detalhe da escrita é que ela é totalmente sem gênero. Isso quer dizer que nenhum adjetivo, nenhum pronome, nada é generificado como masculino ou feminino, e fazer isso em inglês é ligeiramente fácil, pois o idioma não lida com gênero dessa forma. Só há um momento em que Riley é tratada como "a Riley" e ainda assim é na fala de um personagem, e acredito que ela estava se referindo à PESSOA Riley, e não ao seu gênero. Não há nenhum artigo na frente de Riley, não é O ou A Riley: é simplesmente Riley. PORÉM, como nossa língua portuguesa é toda trabalhada no gênero, fica especialmente difícil colocar os adjetivos e tratamentos nos personagens, né? Mas por isso quero aplaudir de pé a tradução nacional: tudo ficou muito neutro e brilhantemente encaixado para que o próprio leitor não fique questionando o tempo todo. Riley é só Riley e pronto.
O livro é muito didático. Fala sobre gênero, depressão, suicídio e ansiedade de maneira real, mas igualmente preocupada, sabe? Há uma representação LGBTQ impressionante: Riley conhece um grupo de apoio (online e offline) e cada um dos seus membros, apesar de não serem aprofundados, tem uma história fascinante de superação e motivação. Dá aquela aquecida no coração!
Além disso, as postagens de Riley no blog são muito explicativas e tenho absoluta certeza de que servem de esclarecimento para muitos leitores, que inclusive podem se identificar também. O que é bastante impressionante é que Jeff, o autor, é um homem cis que fez seu trabalho direito, inclusive ele conta isso nas notas do livro (sobre o trabalho de pesquisa, o que o motivou a escrever e etc): a personagem Riley é extremamente real, convincente e verossímil. Na edição brasileira (não sei se há na original) há um adendo explicativo sobre identidade de gênero, orientação sexual, expressão de gênero e VÁRIOS outros termos importantíssimos.
Eu fiquei muito positivamente impactada sobre:
1: o quanto esse livro é IMPORTANTE. Para jovens, para adultos, para LGBTQs e para pessoas cisgênero entenderem o mundo fora da caixa.
2: o quanto ele é bem escrito e a tradução brasileiro ficou MARAVILHOSA (já comentei, eu sei!)
3: o quanto ele me despedaçou e me juntou de novo.
Os outros personagens são muito bem desenvolvidos sob a visão de Riley - e eu estou também muito chocada o quanto todos parecem muito reais e menos fictícios. Na verdade o livro inteiro parece não-ficção! Seus pais são muito reais, Bec - a garota que conhece na escola e que é responsável por muita coisa no enredo, Solo e suas referências à Star Wars que quebram o clima tenso, os antagonistas e suas motivações também me pareceram muito convincentes... Enfim. Tudo quase impecável.
Como pontos negativos, a capa me irrita haha tanto na versão nacional quanto na original, que é essa aqui:
Por outro lado, eu não saberia como "consertá-la" porque ela conversa muito com o enredo e com a personalidade de Riley, então...
Quanto à história em si, achei que muitas coisas foram deixadas em aberto. O livro não tem um final fechado, o que pode ser bom e ruim ao mesmo tempo, né? Uma das questões mais relevantes para o final, a reeleição do pai de Riley, fica em aberto. Alguns detalhes sobre os antagonistas também me deixaram nervosa e poderiam muito bem ser explicados mais abertamente (não sei se foi de propósito, mas acredito que não).
Além disso, o livro tem cenas muito pesadas e que como autora, como representante de uma história que tem tanta necessidade de ser positiva como a de Riley, eu teria sem dúvida deixado de fora. Ou pelo menos dado um rumo diferente aos acontecimentos. Não vou detalhar para não dar spoilers, mas acho que quem ler saberá do que estou falando. O sofrimento foi muito palpável pra mim e me deixou em frangalhos.
De qualquer forma, esse livro vai pra lista dos que todos devem ler uma vez na vida, pelo menos. É basicamente utilidade pública.
LEIAM e espalhem por aí porque precisamos de mais livros queer, fora da caixa, fora do padrão e eu sinceramente não conheço nenhum outro que trate de pessoas não-binárias e gênero-fluido dessa maneira. Aceito recomendações!
Sinopse: “A primeira coisa que você vai querer saber sobre mim é: sou menino ou menina?”
Riley Cavanaugh é um ser humano com muitas características: perspicaz, valente, rebelde e… gênero fluido. Em alguns dias, se identifica mais como um menino, em outros, mais como uma menina. Em outros, ainda, como um pouco dos dois. Mas o fato é que quase ninguém sabe disso.
Depois de sofrer bullying e viver experiências frustrantes em uma escola católica, Riley tem a oportunidade de recomeçar em um novo colégio. Assim, para evitar olhares curiosos na nova escola, Riley tenta se vestir da forma mais andrógina possível. Porém, logo de cara recebe o rótulo de "aquilo". Quando está prestes a explodir de angústia, decide criar um blog. Dessa forma, Riley dá vazão a tudo que tem reprimido sob o pseudônimo Alix.
Numa narrativa em que o isolamento é palpável a cada cena, Jeff Garvin traça um poderoso retrato da juventude contemporânea. Somos convidados a viver a trajetória de Riley e entender o quê, afinal, significa ser humano.
Como a sinopse já diz, o livro conta do ponto de vista de Riley seus pensamentos, rotina e família. Somos apresentados à personagem de maneira mais neutra possível: com o início do seu post no blog. A frase é: "A primeira coisa que você vai querer saber sobre mim é: sou menino ou menina?”. Riley faz terapia para superar alguns acontecimentos recentes da sua antiga escola (católica) e, como exercício, sua terapeuta pede que escreva suas emoções. Riley decide começar um blog contando tudo o que entende sob sua perspectiva de pessoa não-binária e gênero fluido.
Só que ninguém além de seus leitores sabe disso, e mesmo assim por meio de seu pseudônimo "Alix", porque Riley consegue "camuflar" suas crises com seu isolamento e introspecção. Além disso, seu pai é um importante político que está tentando uma reeleição, então qualquer coisa "fora do padrão" pode afetar suas vidas para sempre. Riley sabe disso, mas também sabe que precisa conversar com seus pais sobre entender perfeitamente quem é (ao contrário do resto do mundo inteiro, aparentemente). A mudança de escola acaba fazendo com que Riley use o blog para desabafar sobre tudo.
O que não se espera é que esse blog se torne um fenômeno online, cheio de comentários (positivos e negativos) e também vire ponto de referência para muitas outras pessoas LGBTQ que buscam ajuda e conselho. Riley começa a enxergar o quanto suas palavras podem ajudar (e também prejudicar) não só a si, mas a uma infinidade de pessoas. E nesse ponto o livro me ganhou totalmente: palavras têm poder. Uma das passagens mais impactantes da jornada de Riley online é ver o quanto seus conselhos, por mais banais que possam parecer, afetam as outras pessoas. E é importante ver que Riley consegue entender isso e age com muita maturidade sobre tudo! É um exemplo a ser seguido, mesmo!
E isso é só o enredo principal desse livro maravilhoso, cheio de detalhes e personagens importantíssimos que fica até difícil descrever tudo!
Vou começar pelo principal: Riley é gênero-fluido, o que quer dizer que se identifica hora como "feminino", hora como "masculino". Sua expressão de gênero (como se veste e se comporta, por exemplo) tendem a acompanhar sua "bússola interna", que varia muito de dia para dia. Seus dilemas são centrados nessa sua expressão, porque as pessoas, acostumadas ao padrão binário de comportamento, ficam confusas ao não entenderem exatamente em qual "lado da moeda" o corpo de Riley se encaixa. Mas o mais importante é: seu sexo biológico não importa. Nem para o personagem, muito menos para o leitor.
Eu quero chamar atenção para um detalhe importantíssimo nesse pano de fundo todo: a escrita e a tradução brasileira. Não li o livro no original, em inglês, mas o detalhe da escrita é que ela é totalmente sem gênero. Isso quer dizer que nenhum adjetivo, nenhum pronome, nada é generificado como masculino ou feminino, e fazer isso em inglês é ligeiramente fácil, pois o idioma não lida com gênero dessa forma. Só há um momento em que Riley é tratada como "a Riley" e ainda assim é na fala de um personagem, e acredito que ela estava se referindo à PESSOA Riley, e não ao seu gênero. Não há nenhum artigo na frente de Riley, não é O ou A Riley: é simplesmente Riley. PORÉM, como nossa língua portuguesa é toda trabalhada no gênero, fica especialmente difícil colocar os adjetivos e tratamentos nos personagens, né? Mas por isso quero aplaudir de pé a tradução nacional: tudo ficou muito neutro e brilhantemente encaixado para que o próprio leitor não fique questionando o tempo todo. Riley é só Riley e pronto.
O livro é muito didático. Fala sobre gênero, depressão, suicídio e ansiedade de maneira real, mas igualmente preocupada, sabe? Há uma representação LGBTQ impressionante: Riley conhece um grupo de apoio (online e offline) e cada um dos seus membros, apesar de não serem aprofundados, tem uma história fascinante de superação e motivação. Dá aquela aquecida no coração!
Além disso, as postagens de Riley no blog são muito explicativas e tenho absoluta certeza de que servem de esclarecimento para muitos leitores, que inclusive podem se identificar também. O que é bastante impressionante é que Jeff, o autor, é um homem cis que fez seu trabalho direito, inclusive ele conta isso nas notas do livro (sobre o trabalho de pesquisa, o que o motivou a escrever e etc): a personagem Riley é extremamente real, convincente e verossímil. Na edição brasileira (não sei se há na original) há um adendo explicativo sobre identidade de gênero, orientação sexual, expressão de gênero e VÁRIOS outros termos importantíssimos.
Eu fiquei muito positivamente impactada sobre:
1: o quanto esse livro é IMPORTANTE. Para jovens, para adultos, para LGBTQs e para pessoas cisgênero entenderem o mundo fora da caixa.
2: o quanto ele é bem escrito e a tradução brasileiro ficou MARAVILHOSA (já comentei, eu sei!)
3: o quanto ele me despedaçou e me juntou de novo.
Os outros personagens são muito bem desenvolvidos sob a visão de Riley - e eu estou também muito chocada o quanto todos parecem muito reais e menos fictícios. Na verdade o livro inteiro parece não-ficção! Seus pais são muito reais, Bec - a garota que conhece na escola e que é responsável por muita coisa no enredo, Solo e suas referências à Star Wars que quebram o clima tenso, os antagonistas e suas motivações também me pareceram muito convincentes... Enfim. Tudo quase impecável.
Como pontos negativos, a capa me irrita haha tanto na versão nacional quanto na original, que é essa aqui:
Por outro lado, eu não saberia como "consertá-la" porque ela conversa muito com o enredo e com a personalidade de Riley, então...
Quanto à história em si, achei que muitas coisas foram deixadas em aberto. O livro não tem um final fechado, o que pode ser bom e ruim ao mesmo tempo, né? Uma das questões mais relevantes para o final, a reeleição do pai de Riley, fica em aberto. Alguns detalhes sobre os antagonistas também me deixaram nervosa e poderiam muito bem ser explicados mais abertamente (não sei se foi de propósito, mas acredito que não).
Além disso, o livro tem cenas muito pesadas e que como autora, como representante de uma história que tem tanta necessidade de ser positiva como a de Riley, eu teria sem dúvida deixado de fora. Ou pelo menos dado um rumo diferente aos acontecimentos. Não vou detalhar para não dar spoilers, mas acho que quem ler saberá do que estou falando. O sofrimento foi muito palpável pra mim e me deixou em frangalhos.
De qualquer forma, esse livro vai pra lista dos que todos devem ler uma vez na vida, pelo menos. É basicamente utilidade pública.
LEIAM e espalhem por aí porque precisamos de mais livros queer, fora da caixa, fora do padrão e eu sinceramente não conheço nenhum outro que trate de pessoas não-binárias e gênero-fluido dessa maneira. Aceito recomendações!
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