"Simon vs. A Agenda Homo Sapiens" foi adaptado ao cinema. Eu já assisti e vim fazer uma resenha diferente, mostrando as diferenças.
"Simon vs. A Agenda Homo Sapiens" é um livro escrito pela Becky Albertalli, lançado em 2015, e um dos meus favoritos da vida. Tem resenha aqui no site, nesse link, e vocês podem conferir todos os detalhes da trama por lá. Ele está sendo relançado pela Intrínseca como "Com Amor, Simon", com a capa do poster do filme (isso não me agradou de jeito nenhum, mas vou deixar o detalhe de lado). Não vou ficar me estendendo muito sobre seu conteúdo, mas a sinopse é basicamente:
Simon tem dezesseis anos e é gay, mas ninguém sabe. Sair ou não do armário é um drama que ele prefere deixar para depois. Tudo muda quando Martin, o bobão da escola, descobre uma troca de e-mails entre Simon e um garoto misterioso que se identifica como Blue e que a cada dia faz o coração de Simon bater mais forte.
Martin começa a chantageá-lo, e, se Simon não ceder, seu segredo cairá na boca de todos. Pior: sua relação com Blue poderá chegar ao fim, antes mesmo de começar.
Eu tive o prazer de assistir Simon numa cabine de imprensa antes da estreia, que infelizmente foi adiada e marcada para o dia 5 de Abril por aqui. Me segurei pra soltar uma resenha comentadíssima, mas resolvi fazer algo novo aqui. Quero deixar claro de uma vez: eu amei o filme, muito mesmo. É uma comédia romântica bem feita, sem cara de "sessão da tarde", sabe? Tem tudo o que precisa ter e, apesar de todas as mudanças, que eu entendo que foram necessárias (boa parte, pelo menos) para que a história se desenrolasse melhor nas telas, é um filme maravilhoso, cheio de positividade, naturalidade e, importante: representatividade!
Mas eu tenho que comentar: é um filme inspirado no livro. O que isso quer dizer? Que a essência toda de Simon está lá, o pano de fundo está lá, mas são maneiras diferentes de contar uma história. Normalmente eu recomendo o contrário, mas aqui, se você não leu o livro, vá assistir o filme antes! Sério. Sua experiência vai ser MUITO melhor! Leia o livro depois! Vai abrir seus horizontes de uma maneira incrível porque a história do Simon escrita quebra muitos preconceitos, questiona muitos padrões, e aí que está a graça de tudo (e que faz com que eu ame tanto o livro)... Enfim, leiam a minha resenha do livro pra saber mais.
Agora eu vou comentar especificamente sobre a adaptação. Se você já leu o livro e assistiu o filme, continue a leitura do post. Caso contrário, fique avisado que vou soltar muitos spoilers tanto do livro, quanto do filme. Eu normalmente faço um comparativo, mas vou salientar só cinco coisas que ficaram diferentes na adaptação.
1. A família do Simon
A família é uma parte importantíssima da vida do Simon. Muitas das suas angústias se desenrolam em torno dela, de todos saberem sobre sua orientação sexual. No filme isso não é diferente, e a família dele é maravilhosa de qualquer forma. Mas, no livro, Simon tem duas irmãs: Alice e a Nora. Alice é mais velha, está fora, estudando na universidade, mas sua visita mais pra frente no enredo desencadeia uma série de detalhes interessantes na trama do livro. E Nora é uma surpresa muito positiva no final, uma das personagens que eu mais gostei, confesso.
No filme, entretanto, a personagem da Alice não existe, e Nora tem uma personalidade um tico alterada. Entendo a exclusão da Alice, mas não gostei da alteração da Nora. Ficou apagadinha e sem graça, infelizmente. O pai do Simon é que rouba toda a cena (e com razão, tanto no filme e no livro).
Leah é a melhor amiga de Simon desde criança, e ela está apaixonada pelo outro melhor amigo do Simon, o Nick. Só que Nick gosta de Abby e isso gera um atrito entre a trupe toda... Bem, pelo menos no livro. No filme, a personalidade dela está lá. A irritação na voz, as mudanças pelas quais ela passa na trama por causa da chegada de Abby. Tudo bonitinho... Só que chega um momento no filme que a personagem é completamente virada ao avesso. Eu não achei que precisassem fazer o que fizeram, de mudar o interesse romântico da Leah, apesar de que depois isso é "arredondado" melhor. É positivo o modo como a amizade dela e do Simon é tratada "depois" dos eventos que se desencadeiam, sim, MAS eu realmente achei que não precisavam ter feito isso (e "isso" é um spoiler muito grande, então vou evitar, mas quem assistir o filme vai saber do que eu estou falando).
Aliás, acho que ela foi a maior das mudanças de todos os personagens.
3. Blue
O mistério da trama toda é: quem é Blue? No livro isso é muito palpável, mas também é suave, porque estamos acompanhando a visão do Simon sobre os eventos (visto que o livro é narrado em primeira pessoa). Na medida em que ele vai tentando descobrir quem é o Blue, a gente vai junto com ele.
No filme, o expectador é que é convidado a ficar imaginando quem ele é através de especulações direcionadas pelas cenas, e não exatamente pela visão do Simon. Não vou saber explicar direito, mas é bem diferente. E eu achei que o mistério se acabou um pouquinho. Tudo bem, dá pra enganar, mas fiquei um tico chateada porque todo mundo que estava comigo conseguiu descobrir quem era o Blue bem no início da trama - sério, todo mundo. Além disso, aparecem outros personagens no meio do caminho para serem representados como o Blue e que não existem no livro.
4. Os e-mails e o tumblr (a revelação)
No livro, Simon encontra Blue por meio de uma postagem no Tumblr da escola. No filme não é diferente, mas achei que a importância dada à "página de segredos" é BEM menor que no livro.
Além disso, mais à frente na trama, a maneira como Blue é exposto no Tumblr pelo Martin - no livro ele só expõe o próprio Simon - é muito dolorosa e, talvez, desnecessária. A ideia de ser exposto, de que algo foi tirado de si [a opção de "sair (ou não) do armário"], porém, é muito bem trabalhada.
Isso também é trabalhado no livro, mas no filme ficou mais impactante, eu acho. E é um tema que os americanos mesmo batem muito na tecla: a ideia de ser "exposto" ("outed") por alguém que não entende as consequências disso (no caso, o Martin).
Também gostei de como isso desencadeia a discussão sobre heteronormatividade - héteros não precisam se assumir, sair do armário, e isso gera algumas cenas maravilhosas no filme (e lágrimas também).
5. O encerramento (as cenas finais)
A descoberta de quem é Blue é um ponto fortíssimo no livro, claro, e no filme também. Mas no livro isso é uma coisa do Simon - no sentido de que ele tem que lidar com isso sozinho, no máximo ele e o próprio Blue. No filme, porém, o negócio se tornou muito público de um jeito que me incomodou. Apesar de ter batido na tecla da exposição, eu achei muito que o Blue foi exposto de uma forma que não precisava ser, sabe? Era uma coisa dos dois, dele e do Simon.
O filme em si é muito mais emotivo que o livro. Chorei, vi a plateia inteira chorando em algumas partes também. Dá aquele calorzinho no peito, mas também fala muito com a geração atual através de referências e representações bem construídas.
No fundinho do meu ser, porém, eu achei tudo bem heteronormativo? Me estranhou, por exemplo, a Becky não ter tentado contornar isso, porque ela participou ativamente da adaptação. Além disso, a ideia por trás de todo o livro é bater na mesma tecla de quebrar padrões. Não vi muito essa discussão no filme - na verdade, fica bem nas entrelinhas, quando se fala das vestimentas do Simon, da cor da pele dos personagens, etc. Mas a presença de um personagem, o aluno assumidamente gay e afeminado, meio que desbancam isso - fora a cena do "musical" que eu achei muito desnecessária e só aparece pra trazer um toque cômico à tensão do momento.
Enfim, de modo geral, é um filme que traz pessoas LGBTQ representadas de forma muito natural e sem pecar pro sofrimento. Lá fora ele tá sendo muito elogiado e com razão, já com 91% de aprovação no Rotten Tomatoes, além de ter estreado em quinto lugar nas bilheterias norte-americanas, que é um feito e tanto!
Mesmo sem assistir, só por isso ele já deve ser aplaudido de pé.
Mesmo sem assistir, só por isso ele já deve ser aplaudido de pé.
sério amei o livro , nem assisti o filme mas já meio que notei essas diferenças , estou bem triste, mas, acho que vou gostar do filme também
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