Título: Something Like Summer
Autora: Jay Bell
Editora: Smashwords
Ano de publicação: 2010
Amor, como tudo no universo, não pode ser destruído. Mas com o tempo ele pode mudar.
As noites quentes do Texas eram solitárias para Ben antes que seu coração começasse a bater no ritmo de duas palavras: Tim Wyman. Tim tem um corpo perfeito e uma vida ideal, mas quando uma colisão não tão acidental faz com que os dois se unam, Ben descobre que a verdade é raramente tão simples assim. Se ganhar o coração de Tim era uma tarefa impossível, mantê-lo se torna ainda mais difícil quando família, sociedade e emoções diversas ameaçam separá-los.
Something Like Summer é uma história de amor para além de uma década da vida desses dois garotos, que descobrem o que significa ser amigos, amantes e, às vezes, até inimigos.
Atenção, essa resenha pode conter spoilers
pelo simples fato de que falar dos próprios protagonistas já é um spoiler! Então estejam avisados.
Vamos lá. A história é dividida em três partes: Parte Um (1996), Parte Dois (1999) e Parte Três (2003). Nesses respectivos anos, acompanhamos a vida de Benjamin Bentley e dos que estão ao seu redor. É algo bem contemporâneo, mas não há nada que "prenda" a trama à época. Na primeira parte, vemos Ben no ensino médio, seus últimos anos numa cidade do interior do Texas e é aquela típica história de high school americana: um dos únicos garotos gays do colégio, uma melhor amiga e um garoto novo, nesse caso chamado Tim Wyman. Ben fica obcecado por Tim ao vê-lo correndo, sua aparência de modelo "Abercrombie & Fitch": alto, bronzeado, musculoso, um sonho americano. Nosso garoto-hormônio então dá um jeito de se colocar no caminho de Tim e os dois engatam algo como "amigos com benefícios" na medida em que Ben passa a cuidar de Tim por causa de um acidente e a situação se desenvolve para um contato mais íntimo, digamos. Sim, tudo bem clichê.
O mais legal dessa primeira parte é, na verdade, a Allison, a melhor amiga de Ben, que tem que lidar com o pai controlador e ciumento depois da morte da mãe. Somos apresentados aos cachorros (menção honrosa porque os pets têm um papel importante nesse livro!) e à família de Ben, o que é super legal na medida em que não envolve aquele drama todo de "sair do armário" nem nada. A sexualidade do Ben não é questionada, e isso foi um ponto fortíssimo pra mim. Essa parte ficou com Tim, o artista irreconhecido cuja própria família é recatada, distante, rica e bastante chatinha. Com medo de perder suas regalias, ele obviamente se esconde e se afasta, e Tim e Ben terminam o primeiro terço do livro separados.
A segunda parte se passa no período da faculdade, com a vida de Ben já adiantada em outra cidade. É a maior e mais densa da trama toda, contemplando quase todos os acontecimentos dos seus 4 anos de faculdade de jornalismo. E aí conhecemos Jace Holden, um comissário de bordo galanteador, bem-resolvido e confiante, com quem Ben começa um pequeno affair para esquecer o passado. Esse affair se torna uma saída, e depois um namoro duradouro mesmo com as dificuldades de os dois se encontrarem por conta do trabalho de Jace - afinal, ele fica pouco mais que dias em casa, e o resto do tempo viajando, voando de um lugar para outro, conhecendo novas pessoas...
Acompanhamos também a vida de Allison, que é uma personagem extremamente importante no livro todo, de verdade. Sem o suporte dela, Ben seria só mais um protagonista qualquer. Eu acho que gostei mais da amizade deles que muitos outros detalhes "principais", se é que posso dizer assim. Me emocionei muito com o apoio dela em diversas situações, e é dela que parte, mesmo que indiretamente, o reencontro de Ben com Tim - que é um garoto mudado agora devido ao seu envolvimento com um senhor de idade que acabou de morrer de câncer. O senhor, Eric, deixa toda a herança em nome de Tim e ele vive a vida boa numa mansão, festas, etc. Nada muito diferente do Tim do ensino médio, e Ben acaba descobrindo que os sentimentos de ambos também não mudaram tanto assim com o passar dos anos: eles continuam apaixonados, apesar dos pesares, apesar do sofrimento que ambos se causaram mutuamente (pra ser bem redundante mesmo).
E aí entra o drama. Benjamin tem que lidar com o relacionamento perfeito que tem com Jace e os sentimentos conflitantes em relação a Tim, que aparece mais insistente que nunca, mesmo sabendo que Ben está comprometido, mesmo conhecendo Jace. Por outro lado, o próprio Jace também tem pleno conhecimento dos sentimentos de Ben por Tim e... gente, o Jace é perfeito. Isso é maravilhoso, mas também é irritante porque ele é MUITO PERFEITO. Não existe alguém assim! Ele praticamente não tem defeitos! Na única vez em que o autor coloca um defeito no personagem, ele vai lá e dá um jeito de sair ileso da situação (que seria a da infidelidade). Os defeitos todos vão para o Tim e isso me fez desgostar dele, inclusive... Nem o fato de o Tim ser um artista incompreendido me aproximou muito do personagem.
Aliás, devo dizer que não amei ninguém nesse livro. Nem mesmo a Allison, que no finalzinho dessa segunda parte faz umas coisas que soaram muito irreais pra mim. Tim é irritante desde a primeira parte - ele só se redime nos últimos 3% do livro. Literalmente nos últimos 3%, e isso é muito frustrante! Porque você fica esperando pra ver a evolução do personagem e ela não acontece gradualmente, é aquele baque no final que simplesmente não cola! E o Jace? Gente... nossa, devo dizer que eu fiquei xingando em voz alta a todo momento que ele falava "está ok, tudo bem, eu entendo...". Tem uma parte que o próprio Ben diz que não consegue lidar com sua perfeição e é justamente isso. Não me levem a mal, ele é extremamente importante e eu achei que o final que o autor deu pra ele foi muito injusto, mas é cansativo ver alguém tão irreal assim.
Agora vamos falar do final. A última parte do livro conta os anos posteriores à graduação de Ben e Allison (e Tim) da faculdade. A vida parece linda, perfeita; senti falta de menção aos pais dele, à família, a outros aspectos importantes que não o trabalho. E também tinha aquela constante sensação de que alguma merda ia definitivamente acontecer.... e, bem, ela acontece. E vou dizer que não estava preparada, definitivamente. Achei ao mesmo tempo desnecessário e cruel o desfecho do Jace - tudo bem que era o "necessário" para que a história tivesse sua amarração redondinha e tal, que Ben e Tim pudessem ter a sua história (afinal, o livro é sobre Benjamin e Tim), mas, poxa.... Não há muito nas outras partes que nos prepara para o sofrimento que são os últimos 5% desse livro. A última cena do Jace me fez soluçar de tanto chorar, o que é um ponto pro autor por ter conseguido passar tanta vivacidade à escrita. E temos a volta triunfal do "vilão redimido" Tim Wyman e o "felizes para sempre" bastante emocionante... Enfim.
O livro é enorme e cansativo. Demorei pra ler porque parei na segunda parte já achando que estava bom, que não precisava de mais história. Tive a impressão de que o Jay poderia ter parado de escrever uns 5 capítulos antes; a última parte era um pouco desnecessária porque dava pra "engolir" a história do Ben e do Tim do jeito que ela terminou na segunda parte. Mas não, tinha que ter mais sofrimento e não sei se isso contribuiu positivamente para o ritmo do livro (que já estava arrastado). Além disso, algumas cenas de sexo me incomodaram bastante, de um modo diferente do que esse conteúdo costuma me incomodar em livros desse tipo. Quero dizer, a maioria dos juvenis com relacionamentos LGBTQs americanos tem conteúdo sexual explícito, eu sei, e isso não me incomoda se se encaixa no contexto. Mas de certa forma achei que o Tim era muito arrogante e abusado no sentido de que ultrapassava limites, sabe? Tem uma cena particular, na piscina da casa dele, no final da segunda parte do livro, que me soou muito mais como estupro que sexo. Esses detalhes me desmotivaram e era perceptível ver a diferença do sexo com o Jace e com ele...
A história é linda, sim, mas muito densa. São mais de doze anos que percorremos a vida dos personagens! Isso é muita coisa! Achei o final bastante bonito também, amarradinho, mas ainda acho que poderia ter sido diferente. A escrita do Jay é muito boa e fluida e, também como ponto positivo, a trama é narrada em terceira pessoa, o que deu um tom muito maduro ao livro.
O livro faz parte de uma série de oito exemplares, tendo o último volume sido publicado nesse ano de 2016. Todos são companion novels, ou seja, podem ser lidos separadamente, mas recomenda-se que o faça em ordem, principalmente dos três primeiros, que tratam diretamente dos personagens vistos aqui (Ben, Tim e Jace).
Something Like series: 8 livros, 7 principais e uma coletânea de contos extras.
A série, chamada de "série das estações" (por causa dos títulos, que eu adorei, por sinal) é uma coleção de livros escritos sob a perspectiva de diferentes personagens, com enredos que se cruzam e também levam a novas histórias. A série ganhou um variado número de prêmios e o primeiro livro está sendo adaptado para as telonas - sim, teremos um filme da história do Benjamin! Tem até um hotsite mostrando o elenco e os produtores aqui http://somethinglikesummer.com/, mas não faço ideia de quando vai sair edit: fiquei sabendo que sairá em fevereiro agora, vamos aguardar! Pelo menos gostei dos atores!
Os livros restantes são (e seus respectivos focos/narradores):
Something Like Summer - Benjamin
Something Like Winter - Tim
Something Like Autumn - Jace
Something Like Spring - Jason (a partir daqui a série dá uma renovada nos personagens)
Something Like Lightning - Kelly
Something Like Thunder - Nathaniel (parece que esse é em primeira pessoa)
Something Like Stories - esse é uma coletânea de contos na perspectiva dos personagens do Eric, Ben, Jace, Allison e do Victor (o ex do Jace que conhecemos no livro 3).
Something Like Rain - William
Eu sinceramente não sei se lerei o resto da série - pra falar a verdade, tenho vontade de conhecer somente os outros personagens, do quarto livro pra frente. Tenho a impressão de que ler o segundo e o terceiro, já sabendo de mais da metade da trama, só vai me trazer mais sofrimento. Ler outra perspectiva é legal, mas sinto que já acompanhei o Tim, o Ben e o Jace por anos demais (doze anos!!) e que talvez saber de mais detalhes me deixará só mais sentida e frustrada.
Mas, também, quem sabe, né?
Quando o filme sair, venho contar pra vocês o que achei! Mas já vi que mudaram a pintura do sapo para um macaco azul.
Ben e Tim |
Benjamin Bentley e sua glória nos patins! |
Tem previsão da tradução da série em português?
ResponderExcluir