25/07/2016

Review - Dois Garotos se Beijando


Ah, Levithan... Você sempre me deixa com aquela dúvida: será que te amo, ou será que te odeio?
Nesse caso, quero dizer que vocês PRECISAM LER ESSE LIVRO. É utilidade pública!


Título: Dois Garotos se Beijando (Two Boys Kissing, no original)
Autor: David Levithan
Editora: Galera Record
Ano de publicação: 2013 no original, 2015 por aqui.
Baseado em fatos reais e em parte narrado por uma geração que morreu em decorrência da Aids, o livro segue os passos de Harry e Craig, dois jovens de 17 anos que estão prestes a participar de um desafio: 32 horas se beijando para figurar no Livro dos Recordes. Enquanto tentam cumprir sua meta — e quebrar alguns tabus —, os dois chamam a atenção de outros jovens que também precisam lidar com questões universais como amor, identidade e a sensação de pertencer.


Gente. Quero começar dizendo que: ESSE LIVRO É MARAVILHOSO.
Pronto, agora vocês já podem seguir em frente, mas tenham essa premissa na cabeça!

Eu não dava nada para a trama porque, bem, pra começar, essa capa me desanima completamente. Apesar de ter conexões com a história, ela me entristece porque, além de afastar as pessoas (sim, é verdade, vamos fazer o quê?), não condiz com a beleza que é o conteúdo.

Pra começar, somos apresentados a Neil e Peter, um casalzinho de 15 anos comum e até certo ponto ingênuo, que representa tudo pelo que alguns luta(ra)m: a liberdade de poder fazer o que quiser sem que isso doa a alguém. Os dois são o ponto menos tenso de todas as histórias, são as discussões adolescentes, os inícios de namoro e as expectativas de não saber como/se ele vai durar.

E então vem Tariq, um cara grande que resolveu se impor diante de uma situação ruim: um muro com sentimentos, vamos dizer. Tariq é quem "comanda" a história principal, que gira em torno de Craig e Harry, os dois garotos da capa, os que resolvem entrar para o livro dos recordes com o beijo mais longo. O ato em si parece bobo, mas tem uma motivação maravilhosa por detrás. É um ato político, afinal, dois garotos irem para a frente da escola e ficar se beijando por mais de 32 horas ao som de uma playlist emocionante, sendo ovacionados e também apedrejados (quase que literalmente). Um ato de coragem que envolve todos os outros personagens do livro.

E aqui vou bater palma para como o Levithan conseguiu amarrar as coisas direitinho?! Todo mundo se conecta com todo mundo, no fim das contas, e é uma conexão quase espiritual, eu diria.

Temos Cooper, um garoto recluso que passa a vida em frente ao computador e tentando ser outra pessoa. Cooper é uma visão bem típica das pessoas que não se aceitam, que acham que não há saída para a vida. Sua história é muito tocante, mais ainda porque foi (assim como mais da metade dos outros personagens) baseada em fatos reais. A parte boa é que a história de Cooper não terminou como a de Tyler Clementi, sua "inspiração", e ela serve de lição pra tanta coisa que eu nem sei dizer. 

Por último, mas não menos importante, temos Avery e Ryan, de longe o casal que eu mais gostei! Eles se conhecem num baile de formatura e resolvem dar chace para se desvendarem. Avery é um garoto trans de cabelos coloridos extremamente fofo - e foi uma surpresa pra mim ver como o Levithan conseguiu coloca-lo com tanta naturalidade no meio da trama toda, sem apelar para sentimentalismos ou discursos prontos. Ryan tem seus próprios problemas com os pais, medos que tem que superar, mas também conta com a ajuda da tia Caitlin que, gente, é praticamente eu! (pausa pra rolar umas lágrimas) Sério, fiquei encantada com os dois.

Por trás da história de todas essas pessoas, nós temos os narradores. Ah, os narradores! Ou seria um narrador só? Um narrador-geração, talvez? Agora estou na dúvida. O fato é que eles são um livro a parte! Eu comecei a ler sem saber do que se tratava, e Levithan não conta do que se trata, você vai descobrindo aos pouquinhos (se não leu a sinopse, é claro), e isso tudo foi montado de forma tão brilhante que eu não sei como me expressar melhor. Quando você percebe quem são os narradores sobe aquele aperto no peito e eu acho que é impossível não chorar lendo esse livro. Voltar as páginas, reler com outros olhos (os olhos dos narradores!)!


Capa original que, GRAÇAS, não foi mantida
A ideia toda é muito original - é aquela coisa: por que não pensei nisso antes? Original, emocionante e de arrancar a alma ao ler os agradecimentos. Se vocês não têm o costume de lê-los, por favor, pelo menos o faça nesse livro específico. Todas as pessoas que serviram de inspiração, toda a geração de narradores merece que vocês dediquem um tempo a agradecê-los também. Dá pra rolar umas outras lágrimas, já vou avisando.

Enfim. A capa original é essa aqui, que também não me agrada muito, mas pelo menos é pior que a nacional. Vamos ser sinceros: acho que ambas não passam toda a profundidade que é essa obra, que fala de amor próprio, aceitação, luta, coragem, política, medo, conflito entre gerações, pais, filhos, relacionamentos... 

Por favor, leiam esse livro. Eu não consegui me expressar nessa resenha nem um terço do que ele vale. Não é um livro sobre dois garotos se beijando, é sobre a vida como ela pode ser: sofrida, com seus altos e baixos, mas que merece ser persistida.

Nenhum comentário :

Postar um comentário