Um compilado de resenhas de livros nacionais com "temática" LGBT.
Pra quem não sabe, sou pesquisadora e mestranda na área das Ciências Sociais, mas voltada para a literatura (Sociologia da Literatura, mais especificamente) - também trabalho com "a questão de gênero" e diversidade sexual. E recentemente fiz um compilado de obras nacionais que possuem personagens considerados plurais (LGBT* ou queers). Desses livros que encontrei, selecionei alguns para avaliar na minha pesquisa, que vai focar em personagens homossexuais.
A parte legal foi realmente descobrir que existem personagens assim há muito sendo retratados na literatura nacional (o meu mapeamento contemplou os anos entre 1990 e 2015, ou seja, mais de duas décadas). A parte chata foi ver que a maioria dos livros tratam de temáticas, e não dos personagens, e são muito mal escritos...
Vou falar rapidamente de três deles nesse post, do mais recente para o mais antigo.
Autora: Amanda Marchi
Ano de publicação: 2013, pela editora Novo Século.
Sinopse: Georgia, sarcástica e ironicamente, apresenta-nos seu mundo através de seus belos olhos azuis. Presa na casa de sua avó em uma cidade pequena, onde não há nem ao menos um shopping, ela se vê em uma rotina monótona até conhecer Alice, sua vizinha, não da frente, mas da diagonal. Um romance, sobretudo, entre seres humanos, que lutam contra o preconceito da cidade pequena e de si mesmas.
O que eu achei:
O livro é finíssimo. Os primeiros capítulos são ok, fluidos até. Mas a palavra que define o resto todo é: enfadonho. Nada me prendeu. Nenhum personagem é crível o suficiente pra nos apegarmos. As meninas são superficiais e irreais, eu diria. Fora que o "entra e sai" de sonho e realidade não combinou e a narrativa ficou deveras confusa.
Desisti definitivamente quando li "extinto humano" no lugar de "instinto humano".... Revisão passou longe, uma tristeza.
ps.: capa bonitinha, mas sem conexão com a história.
Autora: Cristine Baptista
Ano de publicação: 2000, pela editora FTD
Sinopse: Gabriel, como todos os adolescentes, tem muitas dúvidas. Uma delas é sobre sua identidade sexual. Ele sabe que precisa escolher seu caminho. Sabe também que se essa escolha não for o que as pessoas esperam, virão as pressões, a discriminação. Tem medo de deixar de ser amado, de não ser mais respeitado, de magoar. Qual será a decisão de Gabriel?
O que eu achei:
Em uma palavra? Bobo. Tem umas partes interessantes, como o comecinho e a questão das "bonecas", a mãe do menino... mas todas têm tom de lição de moral, e isso me desagradou. Gostei da pequena reviravolta que há na trama, mas o final é horroroso - porque não há final!. É um livro curtinho também, não tem nem 100 páginas (e podia muito bem ter mais umas 2 ou 3 só pra fechar o enredo!).
ps.: capa juvenil atrativa para bibliotecas.
Autora: Giselda Laporta
Ano de publicação: 1997, pela editora Moderna
Sinopse: Marco Aurélio e Gislaine; Cristiano e Tamires. Aparentemente dois casais de adolescentes apaixonados. Mas, até que ponto o amor resiste a pressões? Quando a preferência sexual se revela, como a pessoa reage para não sucumbir ao estigma?
O que eu achei:
Confesso que confundi muito a história desse com o anterior, são parecidíssimas em questões de clichê: menino fica com a menina pra disfarçar que gosta de outro cara. Nesse caso, o melhor amigo. Quer mais clichê que isso? Ah, tem mais sim, mas não vou dizer pra não dar spoilers.
O livro é, de tudo, educativo. Fala em tom de explicação em várias partes, também dá lição de moral e envolve muitos estereótipos, apesar de não desconstruí-los (fato que me irritou profundamente). Pelo menos a trama é fechadinha e, pensando na época em que foi publicado, o livro é muito melhor que vários que vemos por aí hoje em dia. A autora usa termos e descreve de maneira muito respeitosa, esclarecedora e ela expressa bem o que muita gente hoje em dia ainda tenta alcançar: a "normalidade" de pessoas/personagens LGBT*s.
ps.: capa horrorosa, convenhamos.
O que é espantoso, em geral, é perceber que se tem batido na mesma tecla desde 1997 - poxa, gente, quase trinta anos e ainda temos que "provar" que pessoas gays também amam? Uma verdadeira tristeza!
No fim das contas, a leitura dessas três obras me deixou mais frustrada que contente. Ainda estou procurando livros que apresentem a orientação sexual dos personagens como uma simples parte de sua característica, não algo que o define e o rotula completamente..
E, olha, me ajudem, porque tá difícil.
Primeira vez que vejo um post sobre literatura gay nacional que não incluíram "O Terceiro Travesseiro". Realmente, a maioria dos livros voltados para esse gênero - infelizmente - são MUITO clichês e previsíveis. E mais triste ainda é saber que existem TANTOS livros bons, que saem dos clichês, que são bem construídos, mas que não são publicados ou conhecidos.
ResponderExcluirRodrigo, conheço e já li "O Terceiro", inclusive já falei dele por aqui também, mas esse post foi pra falar dos livros que eu selecionei para a minha pesquisa e que eu ainda não tinha lido até então.
ExcluirE tem muitos outros livros nacionais bons sim, e espero que por aqui você encontre muitos deles pois é esse meu objetivo :)
Sim, sim. Já havia visto que você leu ele em um post, só me referi mesmo aos livros que são publicados e conhecidos que, infelizmente, são clichês, mas claro que existem outros MUITO bons também e que são conhecidos como "Apartamento 41" e "All-Star Azul".
ResponderExcluir"All-Star azul" é meu xodozinho da adolescência <3 hahaha
ExcluirVou fazer resenha dele ainda esse ano!
E o problema não são exatamente os clichês, são o que fazer com eles: só jogá-los lá na trama pra "resolver os problemas"/porque o autor/a não sabe o que fazer com os personagens... não dá.
Lorena, o nome da autora do primeiro livro me é familiar. Talvez eu tenha lido alguma resenha de algum outro livro dela. Eu não ficaria com vontade de ler nenhum, sério. Eu também não sou fã dessa coisa de a sexualidade do personagem 'ser' o livro, porque, como eu bem li em Volto Quando Puder - e é algo em que acredito, também -, a sexualidade é apenas uma pequena parte da vida de alguém (independentemente de a pessoa ser hétero, homo, bi, pan etc). Acho que falta mesmo essa noção nos autores. Não adianta querer fazer um livro LGBT que a questão central seja somente isso - porque, né, quantos livros sobre personagens héteros são construídos por causa da heterossexualidade deles? Ah, é, nenhum. Por que será, né? Acho legal trazer a problemática do preconceito, da aceitação, mas a trama não pode se sustentar só disso, né?
ResponderExcluirFiquei com vontade de ler All-Star Azul, porque não conhecia. Já li mencionarem bastante O Terceiro Travesseiro em grupos de literatura e fico com vontade de ler, também.
Adorei a postagem! Sério que não encontrou nenhum livro bom na sua pesquisa? Gente, tô chocada! Ah, aí vai uma recomendação de um livro LGBT de uma amiga: Reescrevendo Sonhos, Marcia Dantas. É uma trama muito adulta, aposto que vai te agradar :)
Love, Nina.
http://ninaeuma.blogspot.com/
é exatamente isso, Nina! Por isso que "Volto Quando Puder" me agradou demais :)
ExcluirE eu acho que você vai se decepcionar com O Terceiro Travesseiro :X
Vou procurar sua indicação, é claro1 <3