Título: Volto Quando Puder
Autoras: Isa Prospero e Márcia Oliveira
Editora: Editora Hoo
Ano de publicação: 2016
Artur é um garoto de 14 anos que mora com a mãe e vê o pai aos finais de semana, pois os pais são separados. Tudo isso muda quando a mãe morre, e ele passa a morar com o pai, Guilherme. Charmoso, extrovertido, tatuador na Galeria do Rock, ele está longe de ser o pai que Artur sempre quis.
Pra completar, o garoto é obrigado a mudar de escola e, a partir daí, começa uma nova fase em sua vida. Além de não ser o cara mais popular da escola, ele faz alguns inimigos em pouco tempo. Mas há duas pessoas que o Artur curte muito: o Alexandre, considerado o melhor professor do mundo pelo garoto, e a Priscila, menina tão interessante, que Artur nem acredita quando ela se aproxima.
Conflito de gerações, dificuldade de comunicação entre pais e filhos, sexualidade e primeiro amor: são todos os desafios que o Artur tem que viver durante a adolescência.
O livro é narrado em primeira pessoa pelo Artur, um adolescente que só sabemos que tem 14 anos pela sinopse mesmo - ele podia ter 17 que não faria muita diferença, ao meu ver, tirando a falta de experiência em "alguns assuntos" que vão sendo acrescentados aos poucos na trama. Artur vai morar com o pai depois que sua mãe morre, e tudo o que ele tem para fazer no começo é reclamar: da escola, do lugar onde mora, da falta que o carro lhe faz, do trabalho e do próprio pai.
A única coisa que ele não reclama de fato é da aula do Alexandre, o professor que ele mais gosta, e de se encontrar com a Priscila. Esses dois, aliás, são personagens importantíssimos para o desenvolvimento da trama.
Fica difícil falar minha opinião sem contar spoilers, mas vou tentar ao máximo!
O livro é divido em três partes, cada uma com um título do que supostamente possa acontecer em seguida - e confesso que achei isso extremamente desnecessário. Tira um pouco do "mistério" da coisa, sabe? Você lê o título e, se prestar atenção aos detalhes durante a leitura, isso já vai estragando o pequeno suspense que o Artur tenta passar através de suas palavras. Fiquei chateadinha (comigo mesma, talvez) por ter "descoberto" o que o Artur demora tanto pra perceber já no comecinho, e isso me tira um pouco o charme da leitura... Pelo menos no início, quando ainda não temos absoluta certeza do seu propósito.
As primeiras 100 páginas têm um ritmo lento. O Artur fala (pensa) demais, e às vezes as transcrições parecem ser exageradas e sem utilidade - tem muitas frases que eu tiraria, por exemplo, porque só reforçam coisas que ele já disse/pensou antes. Inclusive esse comecinho me lembrou muito o livro "Por que Indiana, João?", do Danilo (Leonardi) por conta de questões como violência, bullying e etc. Esses assuntos são tratados de forma superficial aqui, mas estão todos presentes e geram boas doses de reflexão - apesar de não serem o ponto central da trama e de não terem sido levados adiante. A narrativa melhora quando a figura do Guilherme, o pai do garoto, começa a ficar mais presente no enredo.
Os personagens são muito bem construídos - são palpáveis, extremamente reais! Todos eles, até os terciários: consigo enxergar direitinho toda a classe do Artur, os professores, a loja de tatuagem do pai, a Penélope... Talvez o menos verossímil mesmo seja o próprio Artur, que é bem contraditório. Essa contradição me deixou, outra vez, chateada, mas, considerando que estamos falando de um adolescente de 14-15 anos, talvez não seja tão inverissímil assim, né? Aliás, como o livro é narrado em primeira pessoa, tiro o chapéu para as autoras por conseguirem colocar uma voz num personagem masculino que não pareça forçada ou irreal! Sei o quanto isso é difícil, principalmente para autorAs, mesmo a gente achando que não. O Guilherme e o Alexandre são, de longe, meus personagens favoritos por motivos óbvios e não óbvios (?). Me vi muito no Alexandre?! E achei isso engraçado de um jeito desesperador hahaha!
A segunda metade é muito melhor que a primeira. O ritmo se encaixa direitinho, o enredo vai se encorpando e fica extremamente delicioso perceber a evolução dos personagens! A nostalgia que certas coisas me causam, de modo pessoal, contam pontos favoráveis também: fitas cassete, cidades do interior... nossa, tudo o que eu mesma abordei no meu livro "Você É Só Pra Mim"! (Só que de forma menos dramática, eu acho). Não quero estragar a surpresa de ninguém, mas as cenas que eu esperava que acontecessem atenderam totalmente as minhas expectativas! Me arrancou umas lágrimas também, não vou mentir, e fiquei extremamente feliz de ter "errado" a previsão que eu tinha do porquê do título do livro - e não vou explicar pra não soltar spoilers, mas a gente só fica sabendo, literalmente, na última linha. E isso é tanto bom quanto ruim: bom porque as meninas seguraram o "mistério" de ótima forma e conseguiram construir uma trama que se fecha direitinho, personagens que crescem e te dão uns tapas na cara, e um fechamento emocional (sério, emoção é a palavra que define). Mas acho ruim que boa parte do livro não se remeta ao título - ou remeta de maneira extremamente sutil.
De qualquer forma, tirando esses pequenos "pontos de chateação", o livro me agradou demais! Diagramação cuidadosa, o livro físico é muito bonito (orelhas ENORMES, lindas!), a revisão é boa também. E a maturidade com que alguns temas são tratados me deixou com vontade de aplaudir! Não é, ao meu ver, um livro sobre a temática LGBT*, não. Aliás, essa é uma discussão que debati no twitter há pouco tempo: o livro não precisa ser sobre temática para conter personagens considerados plurais. Assim, "Volto Quando Puder" possui personagens que se encaixam nas letrinhas, mas, apesar de isso desencadear uma boa série de eventos na vida do Artur, a história é dele. É ele quem conta, é dele que tiramos as melhores lições.
Agradeço à Hoo por ter me disponibilizado uma cópia dessa gracinha!
Oi, Lorena. Em nome de toda a equipe da Hoo Editora, agradeço muito a cuidadosa análise do livro. Enviaremos sempre nossos livros para a sua leitura crítica e resenha. Valeu. Marcio Coelho
ResponderExcluirEu que agradeço, Marcio!
ExcluirComo disse, sempre que eu puder compartilhar e incentivar histórias e escritas como esta, faço com o maior prazer <3
Sucesso pra Hoo! Vocês já começaram com o pé direito!
Oi, moça!
ResponderExcluirNossa, se antes eu já queria ler esse livro, agora eu tô num estado bem louco de desejo literário hahaha. Adoro demais as suas resenhas, porque você é muito sincera e completa. Ainda não tinha lido nenhuma opinião deste livro e a sua me serviu, em alguns momentos, de aviso - provavelmente, vou ficar de olho nas coisas que você escreveu como "chateação". Mas, de forma geral, espero me emocionar tanto quanto você. Deve ser uma baita lição esta história! <3 Não vejo a hora do meu exemplar chegar haha.
Love, Nina.
http://ninaeuma.blogspot.com/
acho que minha chateação foi mais "estética" do que de "conteúdo" (se é que me entende). E eu fui pra leitura sem ter nenhum conhecimento sobre o conteúdo, então me surpreendi e gostei :D
ExcluirE quero saber sua opinião também! Vou ficar esperando!
Obrigada, viu? Por sempre ficar de olho aqui e pelo incentivo ;)