Resenha o filme nacional Beira-Mar, exibido nos circuitos brasileiros em novembro de 2015.
Idioma: portuguêsGênero: drama, coming-of-age talvez?
Sinopse: Martin e Tomaz viajam para o litoral gaúcho. Martin precisa encontrar um documento para o pai na casa de parentes, e Tomaz decide acompanhá-lo. Os dois acabam abrigando-se em uma casa de vidro à beira-mar, a fim de fugir da rejeição familiar de Martin e da estranha distância que surgiu entre os dois.
O filme é de 2015.
Beira-Mar é o longa nacional que, de acordo com os diretores em várias entrevistas, começou como uma produção despretensiosa dos dois de tentar relatar um pouco da juventude de ambos no litoral do Rio Grande do Sul. Gravado com uma Cannon 5-D, sem orçamento e na base da "vontade de fazer", o filme chegou bem mais longe que o imaginado, viu?
A visão central da história vem pelo olhar de Martin, um garoto recém-saído da adolescência que recebe do pai a incumbência de viajar à uma cidade do interior, por conta da morte de seu avô, e também para fazer "o serviço" do mais velho - que, descobrimos depois, é o de pegar um documento na casa dos avós que ele não visita há mais de dez anos.
Não se sabe o motivo, talvez só pela carona, mas o amigo de infância de Martin, Tomaz, vai com ele para o interior.
bônus: o cartaz internacional CHEIO de photoshop |
Junto aos dois personagens principais, temos a adição de alguns conhecidos de Tomaz, personagens com quem ele estuda na faculdade, mas que nem somos apresentados direito (quem sabe os nomes deles?). Eles dão uma uma "festa" na casa em que eles estão ficando na cidadezinha. E daí que a sinopse tá bem equivocada: não tem nada de casa de vidro, é só uma casa grande, normal (apesar de muito bonita, de fato). Até o trailer passa uma impressão errada, de que eles estão bem "expostos", mas não enxerguei dessa maneira.
Martin e Tomaz (ao fundo), na pseudo-"casa de vidro" |
A casa é um elemento principal, porém. Palco da maior parte das cenas, e das mais importantes também. De frente para o mar, ela evoca o diálogo mais significativo e que dá metáfora ao enredo do filme: o medo que Martin tem (tinha?) de se perder, de sair do caminho que o pai dele quer que ele siga, de explorar o que ele gostaria de explorar por conta própria. "De se importar com quem ele se importa".
A fotografia do filme é belíssima, sem dúvida. A paisagem e o clima colaboram também para uma certa melancolia. A trilha sonora encaixa bem em todas as cenas, e ainda deixa por conta da letra da canção principal, da dupla No Porn, intitulada "Xingú", uma reflexão subentendida. Ouça a música aqui:
Fui assistir ao filme consciente de que, primeiro, era uma produção independente e, segundo, que os atores principais também não tinham experiência. É a estreia de todo mundo, praticamente, então tentei manter minhas expectativas baixas (não acho que deu certo, entretanto). Olhando por esse ângulo, além de considerar até onde o filme chegou, eles conseguiram cumprir o que prometem. Os meninos são bastante naturais na atuação; não achei nada muito forçado (tirando a cena da briga que, convenhamos....), e as improvisações se encaixaram bem (a cena do minigolfe, um pouco da cena do videogame). Os diálogos pecam um bocado, porque tudo me pareceu muito idiota, pra não usar outra palavra. Clichê, além de tudo - mas também tenho consciência de que Beira-Mar é um filme que fala mais no silêncio que pelas palavras dos personagens, apesar de que a falta de qualquer definição no silêncio deixa tudo muito aberto.
Diversos detalhes me irritaram: o cigarro em demasiado, a bebida, a falta de informação sobre a família do Martin (principalmente do pai, um pano de fundo importante!). As tomadas de câmera me deixavam meio tonta; a iluminação contrastava muito de uma cena pra outra, o que cansa a visão - sério, pode não parecer, mas isso é um detalhe importante: hora era muito forte, hora era desfocada (no finalzinho, juro que quase fiquei cega quando a tela fica branca).
Os personagens são pouco desenvolvidos. O Tomaz fica só nas entrelinhas, quase não tem voz! Quando ele começa a aparecer mais, puff! O filme acaba.
Isso mesmo.
O filme simplesmente acaba. O clímax é bem no finalzinho, o que deixa o espectador ansioso pra saber o que vai acontecer depois, na beira do precipício, sabe? E daí que é como se alguém te empurrasse para um grande nada: não há (quase) nada depois do clímax. Só uma pequena conclusão, bastante aberta e bastante reflexiva, por parte do Martin.
No geral, a trama tem alguns furos de continuidade (a tinta azul aparece do nada, no meio da noite, né?), pouca profundidade e um diálogo em específico que me irrita e que aparece na maioria dos filmes "do gênero" (do gênero entre aspas porque, pra mim, não existe essa segregação de gênero) (o diálogo é mais ou menos assim, sempre: "Você é? Você já sabia? Como é?").
Martin e Tomaz, numa das melhores cenas. |
De um modo geral, gostei do filme. Acho que ele funciona principalmente nos momentos de "improvisação". O drama do Tomaz é muito interessante, o desenvolvimento dele com o Martin também. A única coisa que me decepcionou foi o pano de fundo do documento e do avô de Martin, bem rasinho hahahaha Amei o review <3 obs: trilha-sonora boa demais, xente!
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