Título: Boy's Love: Histórias de Amor sem Preconceito
Autores: organização de Tanko Chan (diversos autores)
Idioma: Português
Ano de publicação: 2014
156 páginas.
Quem escolhe por quem se apaixonar é o coração: não há razão, barreiras nem diferenças, pois amar está acima dos gêneros. Nas páginas de Boy’s Love – Histórias de amor sem preconceito, o amor entre rapazes se apresenta em uma variedade de situações, sejam eles jovens ou homens feitos, magos, robôs, sobreviventes em sociedades distópicas, cientistas e até mesmo alienígenas. Boy’s Love ou yaoi são apenas formas de descrever esse fenômeno que surgiu no Japão e conquistou o mundo. São histórias em que o romance está presente em todas as linhas, mas há também questionamentos importantes nas entrelinhas. Cada conto deixa uma marca: algumas vezes uma lágrima ou um sorriso; em outras, uma reflexão. Porém, nessa enorme e deliciosa mistura, há sempre o amor nas suas diversas nuances, podendo ser doce como uma torta de morangos ou picante, cheio de sedução e desejo. Organizada e ilustrada por Tanko Chan, a antologia traz sensíveis histórias de Inês Montenegro, Marcia Souza, Fabio Baptista, Priscila Barone, Diego Umino-Hatake, Agatha Yukari, Rubem Cabral e Melissa de Sá. Seja por atração, seja por um capricho do destino, as vidas desses rapazes estão ligadas por laços de afeição que vão superar barreiras sociais, conflitos e enormes distâncias para viverem juntos essa paixão. Prepare-se para sentir intensamente: sem medo, sem preconceito. Porque toda forma de amor deve ser celebrada.
Essa foi a segunda coletânea do gênero que fiz questão de acompanhar de perto. A primeira, obviamente, foi a FLQueer, na qual participei no volume verde e fiz uma resenha aqui há um ano e pouco... tanto tempo!
Assim como na FLQueer, eu tinha expectativas imensas sobre esse livreto - e aí está um dos maiores defeitos da humanidade, né? A culpa é sempre da expectativa alta demais, que normalmente não é suprida... Mas vamos lá, vou falar um pouquinho de cada um dos contos, brevemente e sem spoilers, prometo. Lembro a todo mundo que sou crítica até no cotovelo (?) e que não pretendo magoar ninguém, só fazer uma análise mesmo e, pra mim, toda crítica é construtiva, ajuda a melhorar o autor se for bem pontuada :) não sou especialista tampouco, não estudei pra nada do que falo, é só experiência mesmo! Além do mais, sou bastante criteriosa quando se trata de uma "seleção" já que acredito que ela tem que passar por cima de todos os nossos gostos pessoais, bem ao estilo "imparcial" mesmo.
O prefácio é da Tanko, organizadora e dona do blyme yaoi, um dos (o?) maiores sites do gênero em língua portuguesa (esta sou eu falando, não pesquisei pra saber!), e é a parte mais interessante do livro. Sério. Pra quem estuda literatura e essas coisas, as informações que ela coletou e conseguiu resumir em 2 folhas são indispensáveis! Com certeza será material de referência pra mim mesma!
Confesso que tenho certa dificuldade em acompanhar o português de Portugal e acho que foi esse o maior empecilho nesse conto. A trama é sobre um garoto que sofre bullying por ser homossexual e é "apadrinhado" por um outro que se transforma em lobo (cachorro grande?). A ideia foi bem trabalhada através da narrativa, gostei do tamanho do conto, acho que deve ser um dos maiores. Mas o final foi meio abrupto e levemente sem sentido mesmo, o que me fez reler boa parte dele pra ver se não tinha perdido nada no caminho que me levasse a entender errado... Enfim. Não gostei do desfecho, mas a escrita foi boa e ela soube desenvolver bem todos os personagens principais!
A Floresta Branca - Marcia Souza
Foi um dos que eu mais gostei pela ideia original, não pela escrita. A confusão de tempos verbais me deixou meio encucada... Além disso, em certo momento, eras da história (estou exagerando para ser didática, claro) se passam em um parágrafo, e uma cena de segundos se desenrola por uma página inteira! Achei a "temporização" mal feita e o personagem central não me convenceu de jeito nenhum e o outro protagonista (o Draude) poderia ter sido melhor explorado. O início e o final do conto não batem, tampouco. Mais alguns parágrafos para consertar esses detalhes e seria o meu favorito.
Sobre Ele - Fabio Baptista
A trama de uma Terra invadida por alienígenas, dois garotos separados por uma abdução e o que restou disso tudo. Gostei do conto... até a parte da abdução. Depois tudo me pareceu forçado demais (não a ideia, mas a interação entre os dois protagonistas). O autor poderia ter usado mais dois ou três parágrafos muito mais proveitosamente se não tivesse descrito cenas dispensáveis (wtf foi a menção à depilação??). É um texto bem amarrado, pelo menos. Final previsível, mas bem feito.
Reminiscência - Priscila Barone
Dois cientistas ligados pelo destino, acho que isso resume bem. Gostei muito da escrita, das referências e do trabalho que a autora deve ter tido pra encaixar tanto referencial teórico de física nas entrelinhas do relacionamento dos protagonistas! Ponto super positivo! Gostei bastante do desenvolvimento, o final me surpreendeu um pouquinho, o que também é outro ponto positivo. O que me deixou com um dedinho atrás foi o desenvolvimento do relacionamento em si, já que foi muito tumultuado pelo cenário/pano de fundo da trama. E também achei que foi bastante rápido, o que pode soar meio forçado.
A Fabulosa Receita de Yoshi Koga - Diego Umino-Hatake
Quando comecei a ler, o quê que veio na minha cabeça? Antique Bakery, obviamente. Como sou fanática por essas coisas de pâtisserie, doces, receitas e cafés, só o nome do conto já me deixou meio eufórica. Eu estava adorando... até a entrada da mãe do Yoshi (que achei totalmente dispensável) e a revelação sobre ele (que poderia ter sido bastante suave e mil vezes melhor se não fosse a mãe dele). Fiquei triste com o final, porque se o autor tivesse usado o espaço que teve para escrever o diálogo com a mãe, teria ficado mil vezes melhor. Se fosse um conto meu, eu reescreveria a partir dali! O potencial era tão bom, mas fiquei frustrada com o desenvolvimento.
Alma Mecânica - Agatha Yukari
O conto que eu mais gostei. A história da revolução humana contra as máquinas, que "subiram" no poder, através da visão de mensageiros da morte (?). A personificação dos agentes da morte foi perfeita, adorei ainda mais o fato de que (não sei se foi intencional, mas deve ter sido) os diálogos nos passam muita pouca emoção. Dá até impressão de que o narrador está vivendo um tédio eterno, o que eu achei ótimo devido às circunstâncias! Gostei do desenvolvimento em geral, mas é o que já disse em outro conto: acho que algumas cenas se passam rápido demais e outras, que poderiam ser melhor aproveitadas sim, duram anos. É a velha questão de saber o que cortar e o que ficar. Eu colocaria mais entre a noite da chuva da trovoada e o dia da "revolução". E achei que ficou faltando (talvez pela minha incapacidade mental mesmo) algumas coisas a serem amarradas, deixando a interpretação por conta do leitor. De qualquer forma, se essa foi a intenção, gostei bastante.
Além da Fábrica - Rubem Cabral
Alienação ao nível extremo, a ideia é fantástica. Gostei do tom mecânico do desenvolvimento (proposital, imagino) e de toda a história criada por detrás - os setores, as máquinas, os nomes... De novo, acho que um pecado de livros como esses, de seleção, é limitar o número de caracteres de cada conto, o espaço que vai ocupar. Um conto como esse eu julgaria necessário algumas páginas a mais de convivência entre os protagonistas até chegar no "divisor de águas" que foi a partida de um deles (sem nomeá-los pra não dar spoiler em ninguém). O final me deixou com uma frustração tão grande que nem sei explicar! Pensei que a "lição" (moral?) seria tão bonita (e clichê, claro, mas do tipo de clichê que é bom) e eu me surpreendi com o contrário, e não no bom sentido. Deu a impressão de que todas as páginas não serviram de nada, que não houve evolução alguma. Se foi essa a ideia, parabéns! Se não...
A Última Vez - Melissa de Sá
Dois monges e um amor proibido. Ideia um tanto clichê, mas os detalhes acrescentam surpresas boas. O que mais gostei foram as partes dos flashbacks. Achei que a harmonia entre eles e o texto "principal" foi ótima e super necessária. Confesso que preferiria que a história tivesse sido contada só com eles, talvez, mas narrativa compensou. Como em outros contos, há muita coisa aberta à interpretação e, nesse em específico, eu gostei da reflexão que causou. Um bom final, bem escrito.
Jaulas - Tanko Chan
A descoberta de uma nova espécie leva o mundo à polvorosa. Como sou fã de escritas de época (isso faz sentido?), adorei o modo como o conto foi escrito, mas a confusão dos nomes me deixou meio perdida. Iniciais tendem a me deixar perdida, então W.G., Sr. L., A.L.... Me deixaram totalmente confusa. Confesso que tive que reler algumas partes pra ver se não estava colocando a fala nos personagens errados - e tive que reler o começo do conto depois que terminei, só pra encaixar as coisas de fato. Então acredito que nomear melhor os personagens ajudaria. A falta de descrição detalhada do protagonista também me enervou um pouco, principalmente para poder imaginar a relação dele com o mimesia, mas é passável. O final é surpreendente, o que me agradou muito, mas a aparente falta de sentimento do narrador me deixou confusa. Se isso também fazia parte da ideia original, foi muito bem sucedida (afinal, experimento ou humano?).
De qualquer forma, o livro me agradou. É visualmente bonito, as ilustrações da Tanko logicamente jogam o charme lá pra cima. O meu veio com as duas primeiras páginas levemente descosturadas, portanto vale checar como tá sendo a montagem na gráfica. Achei que ele fosse maior e, bem, por que não dizer? Melhor. Há diversas falhas na revisão, o que me irritou bastante (parágrafos mal formatados, falta ou excesso de letras, aspas abertas e não fechadas, o mesmo para os parênteses...) e o que vai tirando pouco a pouco o brilho do trabalho. A escolha dos contos deve ter sido difícil, sim, mas acredito que há espaço para mais deles aqui dentro. Há tantos outros de tanta gente que eu sei que participou da seleção e que se encaixaria tão melhor...! Com escrita melhor e com tramas similares, digamos. Muitos dos contos, eu me peguei pensando diversas vezes, dariam ótimos mangás, e talvez melhores contos se fossem maiores.
Fica aquele sentimento de que o dever não foi totalmente cumprido, infelizmente.
Então, Boy's Love Volume Dois, que tal? :)
Olá, Lorena!
ResponderExcluirGostei da sua análise. Sempre legal saber o que as pessoas pensam a respeito do nosso texto, seja para o bem ou para o mal. Imparcialidade e sinceridade são fundamentais e sua crítica pareceu atender bem a esses dois quesitos.
Mas... qual o problema com a depilação?! kkkkkk
Abraço! :D
Oi, Fabio! Que bom que leu! Gosto quando autores buscam conhecer o que os leitores acham!
ExcluirEu não tenho nada contra a depilação hahaha mas achei que a cena ficou TÃO fora de contexto e tão forçada que eu simplesmente não acreditei no que tava lendo, sabe? Poderia ter falado, sei lá, que eles estavam comendo bolo em vez de depilar. A ideia me pareceu muito sem nexo no contexto, só por isso! :P
Oi, Lorena!
ExcluirNa verdade foi para aproveitar o gancho do Chewbacca, que eles haviam comentado.
Acho que eu estava com Game of Thrones na cabeça (aquela cena do Loras Tyrell com o Renly Baratheon, na série).
Mas enfim... nada de depilação nas próximas histórias! kkkkk
Abração!
Obrigada pelas críticas ao meu conto! Também acho legal ter o feedback das pessoas. =)
ResponderExcluirAgora é procurar melhorar.
Obrigada pelo comentário, Priscila!
ExcluirA gente nunca está 100% no que faz, eu acredito que dá sempre pra melhorar! Ainda mais se estamos no caminho certo ;)
Oi Lorena!
ResponderExcluirÉ a primeira vez que leio uma crítica tão construtiva, e agradeço muito!
Concordo totalmente com tudo que foi levantado. Infelizmente, para participar da antologia foi necessário adaptar totalmente a trama, que eu havia pensado como um livro mesmo. O conto seria uma espécie de premissa do que eu tinha em mente, por isso ficaram muitas pontas soltas, e peço desculpas por qualquer momento confuso.
Gostei muito do comentário sobre a falta de emoção do personagem. É difícil escrever pensando que vc é um ser que viveu milhares de anos e é imortal. Então sua atenção a este detalhe foi um grande elogio!
Também concordo com a falta de revisão. Eu mesma cometi alguns erros que só percebi depois, ou palavras que não se encaichavam que eu achei que ia passar por uma "Limpeza", e acabou ficando da forma que ficou.
Mais uma vez, muito obrigada pela crítica!
Abraços! \o/
Oi, Agatha, obrigada por ler a resenha! Fico feliz que serviu de alguma coisa hehe
ExcluirEu gostei muito do seu conto, não precisa pedir desculpas! Sei pelo o que os autores passam na hora de cortar coisas, é como se tivesse arrancando um órgão fora (eu sei!).
Como disse pra Priscila, agora é caminhar pra frente, porque no caminho certo vocês já estão!
"A Fabulosa Receita de Yoshi Koga " tinha de tudo para se uma história fantástica,bem que eu queria uma continuação rsrs
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