Num dia desses aí estava eu de boa na internet quando surgiu na minha timeline do twitter um comentário inicialmente inocente da Sarah Dessen, mas que gerou um reboliço tanto por lá quanto por aqui, na minha cabecinha. Vamos dar uma olhada no que saiu desse brainstorm.
Vamos lá. O comentário em questão pode ser vistos nesses twits aqui e aqui, mas vou transcrevê-los exatamente como ela disse, acrescentando um pedaço do começo da história (do porquê ela ter dito o que disse, afinal):
The part about my books being listed under any 1 sub-category other than YA fiction resonated with me. Last week, I was a mall with my kid. She wanted to look at toys at B&N there. We passed the teen section, so of course (I am human) I looked for my novels. Couldn't find them. My books were not in Teen Fiction, or Realistic Fiction. Not one of the single eleven. I was beginning to get freaked when I realized that....there was a separate Teen Romance section. They were there. And I was like, huh. Don't get me wrong. I know my books have love stories.But to me---maybe I'm wrong---that is not ALL they are. And to see them broken down to only one PART of what I put into them is weird to me.In my mind, I write YA novels. That's what I've called them since my first was published, in 1996. They are about love, often. But also.....family, friends, high school, relationships and the world at large. Why do we have to put everything in a box? Can't we just like BOOKS?
Bom, vou traduzir mais ou menos:
"Sobre meus livros estarem sendo listados em alguma sub-categoria que não ficção YA (jovem adulto), ressoou em mim.Na semana passada, eu estava em um shopping com minha filha.Ela queria olhar os brinquedos na Barnes & Noble lá.Passamos pela seção adolescente, então é claro que (eu sou humano) eu procurei pelos meus romances. Não foi possível encontrá-los.Meus livros não estavam em Ficção Adolescente, ou Ficção Realista.Nenhum um dos onze. Eu estava começando a ficar assustada quando percebi que .... havia uma seção sobre Romance Adolescente separado.Eles estavam lá. E eu fiquei.. "hein?"Não me entendam mal. Eu sei que meus livros têm histórias de amor.Mas, para mim --- talvez eu esteja errada --- isso não é TUDO o que eles são.E vê-los dividido em apenas uma parte do que eu coloquei dentro deles é estranho para mim.Na minha mente, eu escrevo romances YA. Isso é como eu os descrevi desde que meu primeiro livro foi publicado, em 1996.Eles são sobre o amor, muitas vezes. Mas também ... família, amigos, escola, relacionamentos e sobre o mundo em geral.Por que temos que colocar tudo em uma caixa (padrão?)?Não podemos simplesmente gosta de LIVROS?"
E aí a gente se pega ou concordando com ela, ou com a B&N ou ignorando o assunto, o que é infinitamente menos trabalhoso. Afinal, qual o propósito de tanta categorização no mundo da literatura? É um gênero que é subdivido em outro, que tem mais outras sub divisões, que é sub-sub-dividido... e por aí vai até que a gente enrola no labirinto sem saber da saída.
Até que ponto vale classificar sem perder a essência do conteúdo? Se eu classificar alguma coisa como Teen Fiction significa que não posso desenvolver personagens adultos na trama? Significa que eles não são importantes? Significa que esse livro não estará na categoria Young Fiction porque já existe uma sub-categoria em que ele se encaixa "melhor"??
Já discuti gêneros literários por aqui (post sobre coming of age, young adult, yaoi...) e a gente sabe que lá fora, por exemplo, a sub-classificação é massiva. Tudo vai se espremendo e se encaixando em padrões tão delimitados que às vezes fica difícil de fugir deles. Por exemplo, se você pegar um livro que já está classificado como boys love, você sabe o que estará lendo, mais obviamente que a maioria, com certeza, e provavelmente não terá nada "extra". Você foi lá para isso afinal, escolheu ele talvez justamente por isso. Mas e quando a classificação não é assim tão óbvia?
Como escritora, concordo plenamente com a Sarah. Isso é muito prejudicial ao texto, é muito limitador! Categorizar as coisas pode ser extremamente útil, mas pense no que você está deixando de fora ao dizer que aquele livro é uma literatura para pré-adolescentes. Afinal, categorizar é sim excluir, cortar opções. O tanto de gente que eu já vi (e conheço!) que deixa de ler alguma coisa só porque a classificação não condiz com o que a pessoa pensa! Ou a vergonha de comprar livros classificados como "pre-adolescentes" aqui, ou mesmo "infanto-juvenis"! Quer dizer que eu, com meus quase 27 anos de idade nas costas, não "deveria" comprar nada fora da minha faixa indicativa, por assim dizer?
É quase como comparar livros à roupas. Quando a gente vai crescendo, vai deixando de passar naquela seção ali porque já "não serve" mais.
Além disso, o surgimento de dezenas - centenas - de sub-classificações é uma afronta ao próprio autor. Do tipo: olha, você tem que se encaixar nisso aqui, tá? Esperamos isso de você e você só vai aparecer nas prateleiras se escrever desse jeito. Vide a explosão dos ditos "romances eróticos", ou "romances para donas de casa" (sim, já ouvi essa) que começou com 50 Tons de Cinza. A moda do sick-lit onde o protagonista da trama está doente (A Culpa é das Estrelas), do new adult onde os personagens já estão descendo a ladeira dos vinte-e-tantos anos e enfrentam situações mais reais, e tantos outros gêneros que estão ou brotando do nada mesmo, ou estão ganhando novos nomes pra chamar a atenção da mídia (distopias já existiam, viu? Assim como utopias, que ninguém quer enxergar!)
A questão é: as classificações ajudam ou atrapalham?
Já falei do lado do autor: pra mim, atrapalham. Parafraseando a Sarah, a gente não pode simplesmente chamar tudo de livro e ir descobrindo aos poucos o que cada um quer transmitir?? Ok, coisas básicas como romance, terror, thriller, são super bem-vindas e recomendadas sim. Mas quando a gente começa a esmiuçar demais, perde o foco no ambiente como um todo (há um ditado sobre isso, não vou me lembrar qual é, desculpem).
A literatura hoje em dia é tão diversificada e mistura tanta coisa que eu acho meio presunçoso querer arrumar tudo em estantes separadas. Se alguém surgir com uma ideia que ninguém antes escreveu sobre, vão ter que criar uma categoria só para essa pessoa. Imaginem? Meio surreal e totalmente desnecessário, convenhamos.
Então pensem fora da caixa.
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