Faz pouco tempo, mas fiz um post sobre a ajuda que grandes escritores podem nos dar na hora de colocar nossas ideias no papel. Dicas, experiências, o que for válido. E meu artigo foi sobre Tolkien e pode ser lido aqui.
Ultimamente tenho visto muitos autores famosos dando dicas para iniciantes e por um lado acho isso absurdamente fantástico, por outro fico me perguntando o que diabos eles estão fazendo. Mas isso é indagação para outra postagem, porque hoje vou trazer outro mestre das palavras pra falar com vocês: Neil Gaiman.
Então, apresentações passadas, Neil é conhecido também por ser muito próximo do público que atinge. Ele é muito ativo nas redes sociais (facebook e twitter principalmente), dá constante entrevistas em rádios, podcasts, jornais, e faz muitas parcerias com gente conhecida e desconhecida. Ele é como um pai para autores iniciantes porque está sempre contando seus "segredinhos" por aí, lendo coisas aleatórias e responde quase todo mundo que lhe pede conselhos. Em 2011 ele escreveu um episódio para a série inglesa Doctor Who e a partir dela deu várias entrevistas sobre seu processo de criação. Uma delas está no Nerdist Podcast e, durante ela, Neil deu algumas dicas para todos os escritores. Quem quiser conferir o podcast completo é só clicar no link, aqui separei a parte que nos interessa: a que ele vem ao nosso socorro. Vamos dar uma olhada.
Segue o vídeo editado com o áudio das dicas. Fiz uma tradução/transcrição do que é falado e algumas das dicas foram também transcritas pelo Diego Schutt, do blog Ficção em Tópicos. Créditos a ele por ter espalhado a ideia!
Ideias iniciais
Para mim, tudo é uma questão de me convencer de que o que estou fazendo no primeiro rascunho não é importante. Neil entra numa comparação sobre a diferença do tempo sobre suas experiências: quando ele usava máquinas de escrever e passou a usar o computador, e depois voltou ao papel. Para ele, escrever em blocos de anotações e/ou cadernos dá uma sensação de liberdade pois não parece real, não até que ele digite as ideias no computador.
Convença-se de que ninguém verá seu primeiro rascunho, ninguém se importa com ele. Seja lá o que você estiver fazendo, você poderá consertar. Amanhã, na semana seguinte, mas agora faça as palavras saírem. Coloque a história para fora e só então a conserte.
Escrever por inspiração
Se você só escreve quando está inspirado, talvez você seja um poeta bastante decente, mas você nunca será um novelista/romancista. Porque romancistas precisam atingir sua meta de palavras. E essas palavras não vão esperar que você se sentir inspirado ou não. Isso pode ser um choque para muita gente, mas concordo plenamente com ele. O que todo mundo nos fala é que temos que escrever, não importa a hora, o lugar, o motivo. Só escreva. E é nessa ideia que Neil se apega.
Ele então diz que um bom exercício é escrever as coisas/cenas que não te inspiram, que pareçam difíceis. Só assim a gente vai passar por cima desse obstáculo e, quando olhar para trás e reler seu trabalho, não saberá dizer qual cena foi produto de inspiração ou de esforço/trabalho árduo.
Processo de criação
O processo de escrita pode ser mágico (...) (e te proporcionar) felicidade extrema. Acima de tudo, é um processo de colocar uma palavra após a outra.
Neil então faz um comparativo sobre um grupo de pessoas, na Inglaterra e na Escócia, que constroem muros de pedras secas. Elas simplesmente pegam as pedras e encaixam umas nas outras, umas atrás das outras. Elas vão colocando e no fim sabem que vão construir um muro, mas elas simplesmente não pensam muito sobre o assunto no decorrer dessa construção. É como ele disse anteriormente: se há algo a ser consertado, será consertado depois.
Simplesmente colocando uma pedra após a outra e eventualmente você tem um muro. E é assim que você cria um romance/novela. Você coloca uma palavra depois da outra e depois você repete.
Ser escritor
Quando lhe pergunta o que tem de fazer para serem escritores, Neil é simples: “você tem que escrever”, ele diz. As vezes elas me dizem “eu já estou fazendo isso, o que mais preciso fazer?” e eu digo “você tem que terminar as coisas (que escreve)”. É assim que você aprende. Você aprende terminando.
Escolhendo e trabalhando gêneros
Neil diz que há muitos conselhos que ele pode dar a quem quer ser escritor, mas existem alguns específicos para quem quer trabalhar um determinado gênero, e ele é: leia sobre e o gênero para ver o que as pessoas estão fazendo. É importante saber como está esse gênero naquele determinado momento em que você quer se inserir nele. Mas não fique apegado a isso, leia fora da sua zona de conforto. (...) Conheça outras referências, encontre tudo que você puder.
Neil ainda cita como exemplo o nosso tão aclamado Tolkien!
Se você escreve e gosta de fantasia e você quer ser o próximo Tolkien, não leia apenas fantasias parecidas com as histórias de Tolkien. O Tolkien não leu fantasias parecidas com as histórias de Tolkien. Então a dica é simples: aprenda coisas fora da sua zona de conforto.
Conte sua própria história
O conselho mais importante que Neil tem para nos dar é sobre sermos nós mesmos, escrevermos nossa própria história. Não tente contar as histórias que outras pessoas podem contar.
Qualquer escritor iniciante vai começar seguindo as bases de outros. Você pode ler outras pessoas por anos, (...) mas comece contando as histórias que só você pode contar. Porque sempre vão haver escritores melhores que você, mais inteligentes que você. E sempre vão existir pessoas muito melhores nisso ou naquilo (não somente na escrita).
Mas você é o único você. Tem escritores melhores que eu por aí, existem escritores mais inteligentes, pessoas que conseguem criar enredos melhores, etc. E Neil dá aquele tapinha de luva para a gente acordar para a vida com ele mesmo como exemplo: não existe ninguém que consegue escrever uma história do Neil Gaiman como eu. E provavelmente não existirá ninguém que contará a sua história do seu jeito.
Viu? Então melhor separar uma caneta e mãos à obra.
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