Título: Sprout
Autor: Dale Peck
Idioma: Inglês.
Ano de publicação: 2009.
277 páginas
Sprout Bradford tem um segredo (que todo mundo já sabe). Não é o que você pensa, que ele lhe dirá que é gay. A verdade é que seu pai é alcoólatra e sua mãe está morta, mas esses segredos também. quase todo mundo sabe. As digitais verdes que ele deixa em todos os lugares que toca mostra quando ele pintou seu cabelo pela última vez. Mas nem nós, leitores, nem ele está pronto para descobrir o mundo obscuro que se desenrola ao redor dele sem ele perceber. E que tem profundo impacto no desenrolar de boa parte da sua vida.
A imagem da foto é da versão paperback. A minha é hardback e a capa vocês podem conferir no fim do post (prefiro a capa da versão paperback, mimimi).
Bom, a história é basicamente isso que a sinopse conta. Daniel Bradford, conhecido por Sprout (algo como "broto" em português) por causa da cor do cabelo, verde, é o novo garoto de uma escola rural no Kansas. Ele veio transferido de Long Island quando completou doze anos. Ele já tem dezesseis no início do livro, mas é como se revivêssemos toda a trajetória da sua vida em suas palavras, quando ele fica se perguntando se as pessoas sabem sobre sua homossexualidade, a morte de sua mãe, o problema com bebidas de seu pai, sua baixa estatura, sua pobreza... e mais um monte de outras questões.
O que é curioso é o fato de Daniel pintar seu cabelo de verde como uma maneira de ao mesmo tempo se destacar e de se encontrar, como se ele estivesse criando uma personalidade a partir do verde do seu cabelo e de suas digitais. Ele também tem uma grande facilidade em escrever, o que motiva os professores a inscrever seu nome num concurso estadual de redação. Esse concurso é o que abre e fecha o livro; apesar de ficar no pano de fundo da história toda, é o que guia o personagem central o tempo todo.
O segredo de Sprout não é que ele seja gay - isso todo mundo sabe. Ele é o tipo de garoto que sofre bullying pelo sotaque, pelos trejeitos, pela casa onde mora (que tem um trailer estranho e em cujo "gramado" o pai coleciona raízes de árvores mortas) e pela família estranha (e elevem o nível dessa estranheza, por favor!) e, bom, inexistente. Boa parte da primeira metade trama gira em torno das angústias que levaram Daniel e seu pai se mudarem para o Kansas e o que essa mudança desencadeou - coisas bem sutis e coisas tão gigantescas que faz você se perguntar se eles realmente não precisam de uma ajuda mais psiquiátrica, digamos.
E daí, como tudo não podia ser pior, Sprout tem um affair com o garoto mais popular do colégio (e da região), Ian Abernathy, que lhe causa inúmeras reviravoltas e dores de cabeça. No meio do caminho com Ian, Daniel conhece um garoto que o defende pela primeira vez, Ty Petit, e cujo pai é um homem extremamente violento e, de acordo com Ty, mataria Sprout à tiros de espingarda só de ver a cor de seu cabelo de longe.
A trama é muito intensa, principalmente depois da entrada de Ty na história. Antes o livro parece ser só mais um romance adolescente-problemático, mas Sprout e Ty passam por experiências tão severas e intensas que te prendem até a última linha do livro. A segunda metade passa voando e quando acaba você fica se perguntando... "ué, cadê o resto?!"
Os dramas de Ty são muito fortes. Muito fortes, do tipo que te faz pensar "porque isso acontece só com uma pessoa? E uma pessoa tão jovem?!", afinal, eles são adolescentes e tem de enfrentar coisas que nem adultos conseguem às vezes. O emocional de Ty acaba afetando o rumo de toda a história e mexe totalmente com a cabeça de Sprout, a ponto de ele e toda a trama se desenvolver em função do garoto.
Outra personagem importante é Ruthie Wilcox, a (ex) melhor amiga de Sprout. A responsável pelo seu cabelo verde e a excentricidade em pessoa. Ela é meio que uma chave sobre contradições e adolescentes americanas, sobre sonhos e realidades desfiguradas por escolhas mal feitas. Ruthie acaba se tornando outro drama da história e as últimas páginas sobre ela são de tirar o fôlego.
O livro é no estilo "bate e volta". Ele é recheado de flashbacks e relatos de memórias e o fim, na verdade, é o começo do livro - coisa que, me desculpem, eu odeio (não por achar a ideia ruim, mas pelo simples fato de me fazer querer ler tudo de novo sob outra perspectiva! O que eu acho que é bom, né, afinal de contas...). Depois que terminei, tive de reler o começo para entender o que realmente era o segredo do Daniel, que ele fala durante todo o livro.
Achei a história profunda demais para a classificação que o livro recebe (+12) e muito emocionante. Fiquei chocada, a ponto de chorar em muitas partes, principalmente sobre a vida de Ty. Mas o que me deixou mais horrorizada foi ver que ninguém, ninguém na trama inteira faz absolutamente nada pra mudar a vida miserável que o menino leva! Todos os adultos são omissos e desprezíveis! Talvez essa seja a visão do Sprout, ou a que ele quis/conseguiu passar, mas isso me deixou aos nervos! Afinal, como uma cidade inteira pode ser negligente ao ponto de não denunciar abusos infantis, mesmo todo mundo sabendo e vendo, mesmo o conselho tutelar sabendo? Gente. Achei isso meio surreal, principalmente no mundo de hoje. Mas, de novo, o livro foi escrito em 2009 e baseado em fatos reais que aconteceram com o próprio autor durante sua vida (infância/adolescência) em Long Island, em New York e no Kansas. Fato que confere certo "wow!" ao livro (e me choca ainda mais!).
O livro venceu o prêmio Lambda Literary Award for LGBT Children's/Young Adult literature e foi um dos finalistas no Stonewall Book Award in the Children's and Young Adult Literature. A Booklist, uma das revistas literárias de maior renome nos EUA, adicionou a novela à Rainbow List de 2010, classificando-a como "uma bibliografia para jovens adultos que inclui conteúdo significante sobre gays, lésbicas, bissexuais, transgêneros e eventos questionáveis na vida de todos nós".
Muito recomendado.
Quote: "I could be a boyfriend, but I couldn't have one". |
Eu parei de ler a resenha ainda nos primeiro parágrafos porque lol fiquei morrendo de vontade de ler, então eu vou ver se compro e leio a sua resenha só depois. <3 Mas isso é ótimo, só de ver você comentando me deu muita vontade de ler. :3
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