Título: The Vast Fields of Ordinary
Autor: Nick Burd
Idioma: Inglês.
Primeira publicação: 2009.
309 páginas.
Versões harcover (primeira imagem acima) e paperback (segunda imagem).
Minha primeira resenha totalmente literária. Aproveitei que ninguém ainda fez uma resenha em português desse livro (não que eu saiba, nem que o google tenha me mostrado). Confesso que comprei o livro pela sinopse, por algumas resenhas beeeeem superficiais que vi em alguns sites e por alguns trechos que li. Nada de mais, mas tinha uma expectativa enorme por já ter ouvido falar imensamente bem do autor e desse seu romance de estréia.
Pois bem, aproveitando que precisava dar uma pausa nas minhas leituras fantáticas, e que os Correios entregaram o livro antes da greve, peguei pra ler num domingo de manhã e acabei rapidinho, em menos de dois dias (contando as horas que eu realmente tive para lê-lo). É uma leitura prazerosa e fácil, que embala. Cheguei ao meio na primeira sentada, digamos, e daí pro final foi só mais um pulinho.
Para quem nunca ouviu falar, The Vast Fiels of Ordinary conta a história de Dade em seus três últimos meses (o verão) na cidade natal antes de se mudar e ir para a universdade. Conta a partir da festa do seu último dia no colégio até pouco depois da faculdade, sua vida, amigos, angústicas, família e tudo ao seu redor.
O começo foi meio confuso. Como não conhecemos os personagens, fica meio vago a primeira cena que já é mostrada logo numa espécie de "prólogo" do livro, escrito como "before" (antes) no mesmo. Os dezenove capítulos que se seguem explicam a cena inicial com mais detalhes e o que acontece depois dela.
Os personagens
Dade tem dezoito anos,é introvertido, nada popular, introspectivo até demais, cheio de probleminhas e problemões. O primeiro deles é que ele é gay e ninguém, a não ser o seu ventilador de teto e seu abajur, sabem disso. Ninguém, também, além de um dos garotos mais populares do time de futebol do seu colégio, com quem ele mantém uma espécie de romance às escondidas. Este garoto, Pablo Soto, acaba sendo um dos pontos centrais da trama, já que ela se desenrola antes e depois dele, literalmente.
Pablo é descendente de mexicanos (ao que parece), é barulhento, arrogante, estúpido e trata Dade como se este fosse pior que lixo - fato que, claro, desencadeia as diversas angústias do garoto. Pablo não assume que gosta de outro garoto, muito pelo contrário: tem uma namorada chata e implicante, que ameaça mandar o capitão do time de futebol espancar Dade caso o veja olhando para seu namorado.
Se não bastasse os dois encrenqueiros, há na cidadezinha as gêmeas Jessica e Fessica (originalmente Francesca) Montana. Jessica é melhor amiga de Judy, namorada de Pablo, e Fessica é uma garota estranha, que vive no mundo da lua e que aparentemente está apaixonada por Dade - sem saber que ele é gay, claro.
Pablo, Jessica e Fessica trabalham com Dade numa rede de supermercados chamada Food World, aproveitando para fazer de sua vida um completo inferno com todas as implicâncias. Em casa, Dade tem que enfrentar as brigas dos pais; a mãe, constantemente dopada e drogada, viciada em pílulas e livros de auto-ajuda, e o pai, distante, que acaba entrando em um affair com uma "colega" numa roda de leitura de poesias. O casamento dos dois está por um fio, mas ambos parecem não notar e simplesmente jogam a responsabilidade pro alto. Dade, entretanto, sofre pelos dois e seu sofrimento é constantemente revelado no decorrer do livro de várias formas: na vontade dele de sempre sumir, de "flutuar" (como ele diz), na descrição de seu quarto como sendo sua "bolha particular", na incredulidade que ele fica ao ver a falta de responsabilidade dos pais e em como isso acaba afetando muito sua vida, suas escapatórias e seu modo ver ver o mundo em geral.
E no meio de toda essa bagunça somos apresentados a mais um grupo de personagens que dão à trama uma velocidade maior: Lucy, a "menina problemática"que está de férias na casa da tia porque a mãe descobriu que ela estava saindo com meninas; Dingo e sua banda estranha, um cara que vende maconha para todos da região e que se considera um compositor fracassado, levando todos os estranhos amigos a fazerem coisas absurdas em seus momentos de histeria (como raspar a cabeça, por exemplo); Jay, amigo de Alex e completamente despreocupado com a vida; e, finalmente, Alex Kincaid, o traficante de Dingo, que vende maconha aos "amigos" de Dade em todas as festas da cidade, que frequentou a pior escola da região e que é o garoto mais bonito que ele já viu na vida - e, claro, o segundo ponto central do livro.
A história e a escrita
A história tem um enredo bem simplista, a meu ver. Constantemente eu parei para pensar que era tudo muito clichê e que eu mesma já escrevi coisas incrivelmente parecidas! Por exemplo, Lucy é extremamente parecida com a minha personagem Cherry, de Anistia. E o próprio Dade me é ligeiramente familiar, oscilando entre o Alessandro, de Primarius, e o Erick de Anistia - todos meus personagens/histórias. Talvez pelo fato de ser uma história bem simples de se desenvolver, os pequenos detalhes, aquelas pequenas reviravoltas na trama e as coisas bem sutis que Burd coloca tenham me mantido com o gosto pela leitura até o fim. Há pequenas citações e fatos que te fazem não querer parar de ler; o estranho desaparecimento de uma vizinha de Dade, uma garotinha de nove anos, que é achada misteriosamente dentro do supermercado semanas depois; as bandas e músicas fictícias que Dade é apaixonado por, como todo e qualquer adolescente, como se sua vida tivesse mesmo uma trilha sonora (coisa que ele menciona até nos sonhos); as festas regadas à substâncias ilícitas e muito mais. Uma vida adolescente comum se não fosse o fato disso tudo girar em torno da homosexualidade de Dade e de suas descobertas nesse universo.
Como a trama, no começo a escrita é bem simplista. Não falo isso de modo ruim, mas temos que levar em consideração de que é o primeiro livro publicado por Burd. Por alguma razão bizarra, este livro foi publicado em 2009, mas aparentemente só agora há versões disponíveis para compra efetiva. Todas elas têm data de publicação de 2011 e as capas são as mostradas no começo desta resenha.... Enfim, o início da escrita é sempre difícil, me levou a pensar várias vezes que realmente estava lendo um diário adolescente qualquer, já que o livro é escrito em primeira pessoa pelo Dade. Mas então, talvez com mais confiança, Burd começa a se soltar e as palavras vão se encaixando melhor, as analogias ficam mais coesas e as metáforas começam a encher os olhos. Há algumas muito bonitas, os finais dos capítulos em especial são ótimos.
A trama foi muito bem aberta e fechada. Todos os nós foram atados - tirando, talvez, o estranho caso da garotinha desaparecida e achada, que não foi explicado. Mas eu acho que foi de propósito, pois tem tudo a ver com o que Dade pensa e o que ele conclui ao final do livro - final este bem escrito, bem "arredondado", apesar de ter me deixado bastante triste com o rumo das coisas, mesmo eu já esperando por algo do tipo. Afinal, como comentei, algumas coisas são bem previsíveis na trama, mas não de um modo ruim.
Os personagens são bastante vívidos e bons. Dão uma boa dimensão das coisas na história. Cada um deles tem seu papel bem definido e bem desempenhado. O enredo é bom, envolvente, rápido e fácil - do tipo que te prende mesmo sem ter aquele boom emocionante e tudo mais. Em suma, é um ótimo livro. Recomendo muitíssimo. Fiquei extremamente feliz em me pegar fazendo associações entre meus próprios personagens e tramas aos de Burd - coisa que me faz, cada vez mais, sonhar com um mercado editorial brasileiro tão amplo quanto o estrangeiro, com espaço suficiente para obras como esta chegarem nas prateleiras e nas mãos de gente que precisa ler esse tipo de coisa. E, claro, quem sabe algum dia algo meu também não possa estar neste mesmo lugar, né?
Cinco estrelinhas pra incentivar a leitura!
ps.: Não preciso dizer, pelo menos pra quem já leu, que me apaixonei imensamente pelo Alex e que morri de angústia no final do livro.
você sabe de alguma loja online brasileira que tenha esse livro pra vender? já procurei em todas que conheço e nada...
ResponderExcluirbrigado!
Diogo, obrigada pelo comentário!
ResponderExcluirInfelizmente, que eu saiba, não há nenhuma loja brasileira que o venda. Somente importados. A Saraiva - e outras - oferece a opção de importação, mas o custo acaba sendo muito alto.
Comprei o meu na bookdepository.com, que tem frete grátis e preços bacanas. Estou com um exemplar extra desse livro e querendo trocar/vendê-lo. Caso se interesse, me avise! :)