05/08/2013

O mundo do YA "Coming of Age"


Como já discorri inúmeras palavras sobre a invasão Young Adult no Brasil aqui, não vou me deter à explicações, mas sim à divagações desnecessárias, eu sei.

Andando pelas prateleiras de algumas livrarias, a gente começa a reparar nos "perfis literários" dos brasileiros. Há os que leem auto-ajuda como se sua vida dependesse disso (às vezes até depende, vai saber), os aficionados por livros do tipo "A Cabana" (não me levem a mal, ok?), os seguidores de Stephenie Meyer e sua legião de novos autores cujos livros têm praticamente o mesmo enredo e personagens, e os leitores universitários.

Ok. Fui bastante cruel, eu sei, mas a realidade também é cruel, minha gente...

Vamos começar o post novamente:




Andando virtualmente pelas livrarias internacionais, principalmente por receber diariamente novidades da NetGalley, reparei na imensa quantidade de um determinado sub-gênero que anda deixando a mente dos escritores ocupada: o coming of age.

Esse sub-gênero do YA, tanto na literatura quanto nos filmes, tem por foco o crescimento do personagem principal e sua passagem entre as fases "adolescente" e "adulto". Normalmente as histórias desse tipo possuem muitos diálogos internos, monólogos, drama e tudo que há de extremo em ambos os universos. Também figuram a perda da inocência, sabedorias, maturidade, etc. Os personagens principais normalmente são homens, garotos de mais ou menos 17 ou 18 anos que estão terminando o colegial e se deparam com a grande pergunta da vida: e agora, José?

Existe um sub-gênero do sub-gênero (?!) chamado Bildungsroman, que em alemão significa "novela de formação/cultura/educação", cujas histórias se focam na maturação moral do personagem principal e quando isso lhe é extremamente importante - ou seja, muitas vezes.

Tá, mas e daí?
E daí que, acho, é um dos meus gêneros preferidos e é nele que se concentram a maioria das histórias do universo queer/LGBT. Os personagens, em sua maioria, são muito bem construídos, há muito o que se aprender com eles e as tramas são carregadas de temas "difíceis" (como bullying, drogas, sexo, etc.) e que atraem muita curiosidade - principalmente pela parte dos "adult", mais que dos "young" (sacou?). Acredito que coming of age seja muito mais voltado ao público de mais idade - que quero dizer dos vinte pra cima, tá, gente? - do que a maioria dos YA e isso faz a linguagem, as situações e o estilo dos personagens serem outros.

É também o (sub-)gênero que mais gosto de escrever e o que menos é devidamente explorado pelos autores brasileiros. Uma perda imensa, sinceramente, de conteúdo a ser trabalhado. Normalmente os livros aqui ou os personagens já são muito maduros, adultos, ou muito crianças, ainda adolescentes sem noção da vida, digamos, e acabam não enfrentando muitos obstáculos.

Indicações
Há quem encaixe diversos YA nesse sub-gênero, e dentre eles podemos ver Harry Potter com muita frequência. A saga toda, com certeza, representa uma mudança de fase drástica e fantástica, mas não creio que os três primeiros livros de HP representem bem o gênero. A partir do quarto,O Cálice de Fogo, sim.

As Vantagens de ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower, no original) é um grande exemplo de bildungsroman que virou febre depois do filme - recomendo o livro, mas confesso que esperava muito mais por causa do hype e tudo. Não vi o filme, entretanto.

Maurice, um livro que foi adaptado para os cinemas, é um bom representante. Farei resenha do filme em breve, já que nunca li o livro. Em suma, trata-se da história de Maurice Hall que acaba se apaixonando pelo seu amigo numa época em que a homossexualidade era considerada crime, na Inglaterra do século XIX.

Em geral muitos dos livros que resenhei aqui se encaixam nessa "categoria". Dentre eles, The Vast Field of Ordinary é muito bildungsroman e ótimo! Sprout, Geography Club e When Love Comes to Town, que também é muito bildungsroman e dramático e haverá resenha em breve também.

Porque coming of age?
Acho que é uma das fases em que temos mais conteúdo na vida. Sem exageros. Fora que, como normalmente essas tramas são narradas em primeira pessoa, a visão de um adolescente entrando no mundo dos adultos é espetacular, cheia de detalhes, medos, consternações e extremos típicos da idade. As lições que tiramos dessa fase - e dos livros sobre ela - são muito válidas, coisas para se levar para a vida toda. Fora que o gostinho de nostalgia que eles carregam é muito grande e perceptível.

Para um escritor, acho que não há mundo melhor e maior a ser desbravado. É praticamente um parque de diversões! Espero que cada vez mais gente consiga abrir as portas para esse universo aqui. O que, acho, ainda está na mente de muitos escritores nacionais, editoras e agências é que sair do YA e caminhar para um universo em que o adulto está mais presente que o adolescente - às vezes só na cabeça dos personagens e na teoria, nas palavras e no estilo, mas ainda sim - significa perder parte do público que já se conquistou. Bom, a realidade mostra que não é bem assim. Os adolescentes hoje em dia se interessam por livros com conteúdo.

(Ok, talvez não todo mundo, MAS...)

Além disso, escrever para adultos não quer dizer, necessariamente, uma evolução ou maturação ou uma complicação. É só mais uma forma de literatura. Vejo que tem gente conseguindo - vide o sucesso atual da Paula Pimenta, tanto entre os próprios adolescentes quanto entre os adultos! - e outros dando seus passos tímidos - a gente está de olho, Thalita!

Agora só falta mais publicações queer/LGBT aparecerem por aqui pra gente poder rechear a listinha de indicações e, claro, amadurecer o mercado editorial brasileiro. Afinal, qual a melhor época da vida para se descobrir?

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